Fato é, contudo, que nenhum deles quer ser a versão 2018 de Brizola. Cada um corre atrás do que lhe pertence, neste momento, para obter qualquer voto que o aproxime do 2º turno, independentemente do paralelismo histórico com Lula ou Collor. O importante, 1º, é chegar lá.

Leonel Cupertino*

Diante da crise política, econômica e social que o País atravessa, inúmeros analistas, cientistas políticos e jornalistas flertam com a ideia de que a eleição presidencial deste ano – a 8ª desde que os brasileiros recuperaram o direito de votar diretamente – será muito semelhante (no fato de que tem muitos candidatos e também em razão de ser uma disputa completamente aberta) àquela primeira, de 1989.

Em julho, o jornalista Fernando Rodrigues, fundador do site Poder360, publicou artigo em que enaltecia justamente essa sensação de déjà vu eleitoral, apontando similaridades políticas e econômicas bastante relevantes entre o pleito que se avizinha e aquele que marcou a retomada democrática no Brasil.

O ponto nevrálgico dessa semelhança entre as 2 eleições, cujo tempo fez questão de separar em quase 3 décadas, torna-se cada vez mais cristalina na medida em que as alianças partidárias são efetivamente fechadas.

No nosso sistema eleitoral de 2 voltas, apenas os 2 mais bem colocados disputam entre si o 2º turno. Geralmente, quando esse fenômeno acontece, há redefinição de cenário com a adesão de novos partidos políticos aos projetos vitoriosos até ali; é possível reconhecer, também, recomposição de forças baseada nos resultados estaduais; além, é claro, da garantida equidade no tempo de rádio e TV – talvez o principal catalisador de alianças no 1º turno.

Quando os escrutinadores encerraram suas atividades em novembro de 1989, invariavelmente 1 dos 3 favoritos havia ficado para trás. Num universo de 22 candidatos, os brasileiros optaram pelo jovem Fernando Collor de Mello, desconhecido político alagoano do nanico Partido da Reconstrução Nacional (PRN), de um lado, e do fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, do outro.

Quem havia sobrado, afinal? O ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, do Partido Democrático Trabalhista (PDT) fora o preterido naquela ocasião. Derrotado por Lula, a diferença entre os 2 foi inferior a 500 mil votos válidos, ou, em números percentuais, míseros 0,67%.

As 2 perguntas a serem respondidas, hoje, são as seguintes: quem será o Lula, e quem será o Brizola desta eleição? Inevitavelmente, cabe também o questionamento: Jair Bolsonaro (PSL) seria o Collor versão 2.0? Semelhanças entre eles não faltam.

Bolsonaro origina-se de segmento específico e era relativamente desconhecido do eleitor até pouco tempo atrás. Ou seja: vem de meteórica ascensão política. Fenômeno nas redes sociais, seu partido é tão nanico quanto aquele que Collor hospedou sua candidatura em 89 e, em que pese a temporalidade, o discurso de ambos também é bastante parecido. Evidentemente existem diferenças, e a principal delas refere-se à presença do deputado carioca nos debates televisionados – Collor, no 1º turno, não participou de nenhum.

Quanto à 1ª pergunta, 2 candidatos correm atrás do prejuízo para garantir seus referidos nomes no 2º turno: o tucano Geraldo Alckmin, de um lado, e a dupla petista Lula e Fernando Haddad, do outro.

Independentemente dos problemas atuais enfrentados pelo Partido dos Trabalhadores, é possível afirmar – mais agora, com base no acordo fechado com o PSB – que a Região Nordeste promoverá derrotas acachapantes a quaisquer candidatos que se apresentarem como algozes do ex-presidente Lula, do PT, ou de suas bandeiras. Dos 9 estados da região, 8 são governados por siglas pertencentes à coligação do [ainda] candidato Lula. A exceção refere-se ao Rio Grande do Norte, onde a senadora petista Fátima Bezerra lidera a corrida local deste ano. Isso significa que, do sul da Bahia ao norte do Maranhão, dificilmente algum candidato conseguirá romper a fortificação petista.

No ninho tucano, a situação é complexa, mas alvissareira. Inteligente e silenciosamente, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin se movimentou para garantir o apoio oficial do chamado “centrão”. Sua coligação é, de longe, a maior dessas eleições, o que lhe garantiu mais de 44% do tempo de rádio e televisão, além de valiosos palanques estaduais, sobretudo na região centro-sul do Brasil.


Enquanto o simpatizante petista segue oriundo das camadas e estratos mais baixos, o correligionário tucano permanece mais conservador, com maior renda e escolaridade. Ou seja: os velhos recortes sociais entre eleitores do PT e PSDB permanecerão os mesmos, sendo possível afirmar, sem sustos, que o eleitorado dos 2 partidos é diametralmente antagônico.

Fato é, contudo, que nenhum deles quer ser a versão 2018 de Brizola. Cada um corre atrás do que lhe pertence, neste momento, para obter qualquer voto que o aproxime do 2º turno, independentemente do paralelismo histórico com Lula ou Collor. O importante, 1º, é chegar lá.

(*) Graduando em ciência política pelo Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), Assistente Legislativo da Queiroz Assessoria Parlamentar e Sindical.

Fonte: Diap, 16 de agosto de 2018.