Para PF, superintendente do Ministério do Trabalho no Rio recebia propinas e agia sob influência de deputada

Fábio FabriniReynaldo Turollo Jr.
BRASÍLIA

Preso na Operação Registro Espúrio, o superintendente do Ministério do Trabalho no Rio de Janeiro, Adriano José Lima Bernardo, disse em áudio obtido pela Polícia Federal que um processo de registro sindical em curso na pasta o faria “ganhar na loteria”. 

A informação consta em documentos da investigação, obtidos pela Folha. 

Aliado da deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ), Lima foi um dos alvos de mandados de prisão temporária nesta quinta-feira (5), durante ação que resultou também no afastamento do ministro do Trabalho, Helton Yomura.

Helton Yomura (centro) deixa a Superintendência da PF após depor na quinta (5)
Helton Yomura (centro) deixa a Superintendência da PF após depor na quinta (5) - Pedro Ladeira/Folhapress

Para os investigadores, os áudios do superintendente indicam que ele se valia da proximidade com a congressista para submeter demandas a outros servidores da pasta e, com isso, receber propinas de entidades beneficiadas com fraudes em processos. 

Cristiane Brasil é filha de Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, um dos partidos que controlavam o ministério até a queda de Yomura. O governo já anunciou a nomeação do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (MDB-RS), para substituí-lo interinamente.

As gravações analisadas pela PF foram enviadas por Lima em maio, via Whatsapp, ao então coordenador-geral de Registro Sindical do ministério, Renato Araújo. Araújo seria preso logo depois, em 31 daquele mês, na primeira fase da Registro Espúrio. 

Numa das mensagens, Lima trata com o coordenador-geral de pedido para deferir o registro de um sindicato. Na sequência, avisa que está providenciando uma reunião a respeito, possivelmente com representantes da entidade, para a qual levaria a “líder” –referência, segundo a PF, a Cristiane Brasil.

Em seguida, o superintendente pede a Araújo prioridade na análise do processo de uma entidade representante de mototaxistas. Na gravação, sustenta a investigação, ele aduz que o favorecimento à instituição não era uma demanda só dele, mas também da congressista.

"Adriano acrescenta que eles iriam 'ganhar na loteria' com o processo de registro sindical em questão", diz trecho de relatório da investigação.

Nesta quinta, a PF cumpriu dez mandados de busca e apreensão na terceira fase da Registro Espúrio. Entre outras medidas, autorizadas pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, policiais vasculharam gabinetes de Yomura e prenderam seu chefe de gabinete. 

Também houve buscas em endereços do deputado federal Nelson Marquezelli (PTB-RJ), que foi proibido de frequentar o ministério e de ter contato com servidores e outros investigados.

A Polícia Federal mira um suposto esquema de cobrança de vantagens, como dinheiro e apoio político, em troca da concessão de benefícios a sindicatos e federações no ministério. 

Na etapa anterior da operação, Cristiane Brasil foi alvo de medidas de busca e apreensão. Parte das provas usadas na ação de quinta foram obtidas no celular dela, recolhido pelos agentes da PF. 

A assessoria da deputada informou, em nota, que ela reitera seu apoio às investigações e está à disposição para quaisquer esclarecimentos. “Ao contrário do que afirma a PF, porém, a deputada não tem ingerência sobre o ministro ou o ministério”, acrescentou.

A Folha não localizou nesta sexta (6) representantes de Lima e Araújo. 

Fonte: Folha de S.Paulo, 9 de julho de 2018.