Veículos de comunicação pediram autorização para entrevistar o ex-presidente Lula, preso na Polícia Federal desde o início de abril

Com a insistência do PT em manter a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República, mesmo com o petista preso, o país pode assistir a uma situação inusitada durante a campanha eleitoral. Além de um candidato presolutando para ser considerado elegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os brasileiros podem assistir à primeira sabatina gravada de dentro da prisão.

Aliados do ex-presidente já começaram a admitir que a mobilização em defesa de Lula está ficando mais complicada com o passar do tempo. O PT coordena uma “vigília permanente” nas proximidades da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, desde a prisão de Lula, no dia 7 de abril. Mesmo assim, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, admitiu, em um evento com apoiadores do partido em São Paulo, dificuldades para mobilizar militantes em defesa do petista.

O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que coordena o programa de governo do ex-presidente, citou, no mesmo evento, que há um “momento de desmobilização” da militância, mas minimizou o problema, alegando que isso é passageiro.

Para evitar uma desmobilização ainda maior, o Partido dos Trabalhadores, que tem insistido na candidatura do ex-presidente, tenta garantir a participação de um representante da legenda em sabatinas com pré-candidatos. As sabatinas já estão sendo realizadas por vários veículos de comunicação neste período pré-eleitoral. A Gazeta do Povo já entrevistou, por exemplo, os pré-candidatos Alvaro Dias (Pode), Flávio Rocha (PRB), Henrique Meirelles (PDMB), João Amoêdo (Novo) e Levy Fidelix (PRTB).

O PT chegou a recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para ter representantes de Lula nas sabatinas com presidenciáveis. O partido alega que Lula, que é líder nas pesquisas de intenção de voto, está sendo excluído das entrevistas. Na última pesquisa, realizada pela CNT/MDA*, Lula aparece na liderança com 32% das intenções de votos.

Em resposta, na semana passada, um grupo formado pela Folha de S. Paulo, SBT e Uol pediu autorização à juíza Carolina Lebbos, responsável pela execução penal de Lula, para entrevistar o ex-presidente na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde o petista cumpre a pena de 12 anos e um mês de prisão na Lava Jato.

No pedido feito a Lebbos, os veículos pedem autorização para que os jornalistas Fernando Canzian, repórter especial da Folha, Diogo Pinheiro, do UOL, e Carlos Nascimento, do SBT possam entrar na PF para entrevistar Lula. Os veículos também pedem autorização para entrada da equipe técnica, além de equipamentos como gravador, bloco de anotações e equipamentos fotográficos e de vídeo.

A juíza ainda não se manifestou sobre o pedido. Ao decidir sobre outros pedidos de visita ao ex-presidente, Lebbos determinou que as visitas fossem negociadas diretamente com a Polícia Federal, responsável pela administração do prédio onde Lula está detido. A tendência é que a magistrada siga o mesmo raciocínio ao deliberar sobre esse caso.

Procurada, a assessoria de imprensa da Polícia Federal não soube informar se os veículos de comunicação chegaram a pedir autorização à PF para entrevistar Lula.

O PT tenta se adiantar a uma possível negativa das autoridades para que Lula participe de entrevistas enquanto estiver preso na PF. Em resposta a um pedido de entrevista da Gazeta do Povo, o partido sugeriu que um representante do partido fosse sabatinado no lugar de Lula. As opções cogitadas pela legenda são a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, o economista Mário Pochmann e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad - apontado, inclusive, como possível plano b do partido, caso Lula seja considerado inelegível.

Mesmo que as entrevistas com Lula na cadeia sejam autorizadas, a candidatura do petista esbarra em outro problema: a participação nos debates. Os encontros entre os candidatos são realizados por diversos veículos de comunicação no período eleitoral e, se estiver preso, o petista não poderá comparecer.

Lula pode receber visitas uma vez por semana na Superintendência da Polícia Federal. Por questões administrativas, ficou decidido que o petista pode receber a família no período da manhã e até duas visitas escolhidas por ele à tarde, por até uma hora de duração.

O petista está preso desde o dia 7 de abril. Ele foi preso por ordem do juiz federal Sergio Moro, com base no entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a possibilidade de cumprimento da pena após uma condenação em segunda instância. A defesa de Lula ainda tenta reverter a prisão através de recursos tanto no Superior Tribunal de Justiça (STJ) quanto no STF.

Apesar de condenado e preso, o PT insiste na candidatura de Lula e se recusa a falar em plano b, pelo menos por enquanto. O partido garante que vai registrar a candidatura do ex-presidente em agosto e utilizar todos os recursos possíveis para mantê-lo na disputa.

Condenação

Lula foi condenado no processo do tríplex do Guarujá. O Ministério Público Federal acusava o petista de receber propina da OAS através da compra e reforma de um imóvel no edifício Solaris. A defesa nega que Lula seja o proprietário do apartamento.

Moro condenou Lula a 9 anos e meio de prisão, mas em julgamento realizado em segunda instância os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) aumentaram a pena para 12 anos e um mês.

Metodologia da pesquisa

A pesquisa feita pela CNT/MDA foi realizada de 9 a 12 de maio de 2018 com 2.002 entrevistados em 137 municípios. Registro no TSE: BR-09430/2018. Margem de erro: 2,2%. Confiança: 95%.


Fonte: Gazeta do Povo, 17 de maio de 2018.