Número de pré-candidatos à Presidência da República começa a afunilar, acelerando discussões sobre alianças para as eleições de outubro

 | Ricardo Stuckert/Fotos Públicas
Ricardo Stuckert/Fotos Públicas

Michel Temer (MDB), que conversa com Geraldo Alckmin (PSDB), que negocia com Rodrigo Maia (DEM), que não descarta alianças com partidos de centro. Enquanto isso, petistas conversam com Ciro Gomes (PDT), que não descarta unir forças com outras legendas de centro esquerda. Os mais de 20 pré-candidatos à Presidência da República começam a se afunilar e intensificar a discussão de possíveis alianças. Em jogo, a formação de coligações para as eleições em outubro, com especial atenção para quem irá ocupar a vaga de vice-presidente nas chapas.

A movimentação mais intensa acontece entre os partidos de centro, responsáveis pela sustentação do governo do presidente Michel Temer, que chegou a cogitar ser candidato à reeleição, apesar de ter entre 1% e 2% na última sondagem de intenções de voto*. Temer defendeu que o centro se organizasse em torno de uma única candidatura, mas admitiu em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que essa possibilidade está cada vez mais distante.

Entre os nomes que representam o centro nas eleições, nada está definido por enquanto. Até aqui, os pré-candidatos que testam seus nomes nas pesquisas são Alckmin, Meirelles, Temer e Rodrigo Maia, além de Paulo Rabello de Castro (PSC), Alvaro Dias (Podemos), Flávio Rocha (PRB) e João Amoêdo (Novo). Destes, o que se saiu melhor no último levantamento do Paraná Pesquisas* foi Alckmin, que alcançou no máximo 8% das intenções de voto, variando entre o quarto e o quinto lugar no ranking, dependendo do cenário pesquisado. Juntos, todos somam mais ou menos 17% dos votos.

Para o cientista político Marcio Coimbra, é natural que os pré-candidatos comecem a buscar alianças em torno de candidaturas unificadas. “Esse pessoal vai se afunilando cada vez mais em candidaturas viáveis”, explica.

Temer, inclusive, conversa com o tucano Geraldo Alckmin sobre uma eventual aliança entre MDB e PSDB. Dias depois, Alckmin se apressou em visitar o presidente da Câmara Rodrigo Maia, que, por sua vez, correu para conversar com dirigentes do PP, PSD e PRB – este último por enquanto sustenta a pré-candidatura do dono da Riachuelo, Flávio Rocha. Maia também abriu um canal de diálogo com Alvaro Dias e não descarta uma aliança.

Ao mesmo tempo em que o PRB senta para conversar com o líder do Democratas, Flávio Rocha também negocia uma chapa com o senador do Podemos. Enquanto Alvaro defende uma união de candidatos fora do quadro MDB-PSDB, Rocha diz ser favorável a uma aliança “de Alckmin a Meirelles”.

Para Coimbra, a união entre o Podemos e o PRB tem o potencial de fortalecer a candidatura de Alvaro. “Seria um grande ganho para ele, porque entraria na Record, na Igreja Universal [pontos de influência do PRB]. Flávio Rocha seria um ótimo vice para o Alvaro”, opina.

Aparentemente, Alckmin é o candidato que vai aglutinar grande parte do centro em torno de uma candidatura, mas o cientista político Mário Sergio Lepre destaca que, para isso, o tucano precisa ganhar corpo nas pesquisas. “Se ele não conseguir ganhar corpo, essa candidatura de centro direita ainda precisa ser desenhada”, analisa.

Uma coisa, para Lepre, é certa: “divididos, esses partidos de centro não vão a nenhum lugar”. “Se esse bloco de centro direita não tiver um nome viável e que tenha apoio, o Bolsonaro vai para o segundo turno e quem vai disputar com ele é Ciro Gomes, Marina Silva ou um nome do PT apoiado pelo Lula”, arrisca o cientista político.

Mais à direita

O pré-candidato que se posiciona mais à extrema direita é o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), que flutua entre o primeiro e o segundo lugar nas pesquisas, dependendo do cenário. Bolsonaro já teria, inclusive, um possível vice: o senador Magno Malta (PR).

O presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, já disse que dos 40 deputados do PR, dez defendem uma aliança com Bolsonaro. O deputado tem entre 20% e 21% das intenções de voto e, se nada mudar, é quase certo que vai disputar o segundo turno. Outra opção que foi aventada para ocupar o lugar de vice de Bolsonaro é o General Mourão, filiado ao PRTB de Levy Fidelix.

Mais à esquerda

Enquanto a extrema direita tem um único candidato à Presidência, a esquerda e a centro esquerda têm mais pré-candidatos colocados na disputa. Entre os nomes que já se colocaram no cenário estão o ex-presidente Lula (PT), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Manoela D’Ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL).

Nesta quinta-feira (10), Celso Amorim entrou na lista de possíveis vices do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que mesmo preso em Curitiba continua sustentando que é o candidato do PT à presidência. O nome de Amorim surgiu como alternativa para representar o petista em sabatinas com os pré-candidatos.

O próprio PT já acenou para Ciro Gomes. O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), foi quem ensaiou uma aproximação. Para Coimbra, porém, as chances de o PT fazer uma aliança com o PDT são pequenas e o partido ainda tem potencial de levar um candidato ao segundo turno.

“O PT tem um eleitorado de 20%. Desses 20%, 80% votam em quem Lula indicar e essa pessoa já nasce com 15%”, diz. Para o cientista político, mesmo que atualmente Haddad tenha cerca de 3% das intenções de voto até agora, pode crescer nas pesquisas se tiver a benção de Lula.

Coimbra destaca, ainda, que é importante o PT ter um candidato à Presidência para que a legenda não perca força. Isso porque, com um candidato ao Planalto, o partido tem mais chances de eleger senadores e manter uma bancada significativa na Câmara. “A candidatura do PT se impõe ao partido. Ele não pode abrir mão de lançar um candidato”, analisa.

“Lula ainda se coloca como candidato e ainda não libera o PT a buscar um nome. Isso é muito ruim para o PT”, opina Lepre. “Acho que o Lula erra porque o PT poderia ter condições de ter um nome competitivo na esquerda. Se apoiado pelo Lula, teria uma viabilidade razoável”, completa.

Ciro, por sua vez, também sonha com uma aliança com o PSB, que ficou sem pré-candidato depois da desistência do ex-ministro Joaquim Barbosa de disputar a eleição. O pedetista também ensaia um movimento para atrair o PP, ao avaliar fazer do presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, seu vice. Nesta quinta-feira (10), o pré-candidato do PDT também se reuniu com Manoela D’Ávila (PCdoB).

Metodologia da pesquisa

O levantamento do Paraná Pesquisas ouviu 2.002 entrevistados em 154 cidades entre 27 de abril e 2 de maio. A pesquisa está registrada no TSE sob o número BR-02853/2018. A margem de erro é 2,0% e a confiança é de 95%. 

Fonte: Gazeta do Povo, 14 de maio de 2018.