São 13,8 mil imigrantes com carteira assinada e a maioria na indústria, principalmente em frigoríficos

O Paraná é o terceiro estado do País em número de trabalhadores estrangeiros com carteira assinada: 13,8 mil. São pessoas que chegaram em busca de emprego e melhores condições de vida, como os imigrantes haitianos, ou com emprego garantido em multinacionais que se instalaram na região. Em ambos os casos, a indústria é o setor que mais abre as portas para contratação de funcionários de outras nações, o que ajuda a explicar o motivo de os outros dois primeiros colocados serem São Paulo (43,1 mil) e Santa Catarina (14,3 mil).

Os números foram levantados pelo Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) com base na Rais (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho e Emprego. O Paraná aparece como aposta de porto seguro para boa parte dos imigrantes principalmente pelas vagas de trabalho na agroindústria, como em frigoríficos. São 5,9 mil (44%) no setor de transformação, 4 mil (29%) em serviços e 2,4 mil (18%) no comércio. 

A força da agroindústria aparece quando se constata que três das oito cidades com maior número de trabalhadores estrangeiros são fortes pela produção granjeira. A segunda colocada é Cascavel (1,3 mil), a quinta é Toledo (581) e a sétima, Marechal Cândido Rondon (399). 

Londrina, apesar de ser a segunda cidade do Estado em população, é apenas a oitava em número de registrados, com 384. Completam a lista dos principais destinos a Capital (3,4 mil), a fronteiriça Foz do Iguaçu (1,2 mil), Maringá (762) e São José dos Pinhais (514). 

O presidente do Ipardes, Julio Suzuki Júnior, afirma que o Paraná tem essa representatividade por questões geográficas, de proximidade à fronteira de Paraguai e Argentina, mas principalmente por ser um dos polos dinâmicos da economia nacional. "A agroindústria do interior e do Oeste empregam muitos estrangeiros, muitos dos quais são haitianos. E temos também muitos imigrantes que chegam transferidos com a abertura de filiais das multinacionais em que trabalham", diz. Ele cita que nacionalidades mais ligadas a essas empresas tiveram aumento no contingente de trabalhadores registrados entre 2010 e 2016, como japoneses (de 121 para 221), italianos (89 para 149), espanhóis (56 para 114) e chineses (91 para 159). 

                           

PRECONCEITO 

No entanto, são mesmo os haitianos, 4.847 pessoas, ou 45% do total, os que mais obtiveram empregos registrados. Boa parte está no chão de fábrica, o que não significa que não representem mão de obra qualificada. "Vemos muitos profissionais graduados, como engenheiros, que se submetem a empregos menos especializados por falta de oportunidade", diz a presidente do Cerma (Conselho Estadual de Migrantes, Refugiados e Apatriados) do Paraná, Katyani Ogura. 

Ela confirma que o Paraná recebe muitos trabalhadores do exterior pela maior facilidade de conseguir uma vaga em abatedouros. Nesses casos, pesam menos as barreiras como o idioma diferente, já que muitos haitianos não falam o inglês ou o francês, mas apenas a língua nativa, a crioula haitiana. 

Mesmo assim, Ogura afirma que há discriminação contra imigrante. "Recebemos uma denúncia recente de que há vagas abertas em um Sine em que consta que não é para oferecê-las a haitianos", conta. É nesse tipo de caso que o órgão atua. "O conselho oficia o Ministério Público do Trabalho para verificar o caso e garantir o acesso ao trabalho." 

Primeiro órgão do tipo criado no País ainda em 2015, o Cerma tem o objetivo de fiscalizar e orientar a criação de políticas públicas, desde o abrigo a expatriados até o acesso à rede de ensino para filhos de imigrantes. "Temos relatos de refugiados que, por não terem disponível toda a documentação necessária, são explorados. Mas é preciso ressaltar que a maioria das empresas faz tudo certo", completa Ogura. 

                            

Estrangeiros veem boas perspectivas no Estado 

                            
Marcos Zanutto - O garçom Alvaro, com os empregadores Claudia e Juan: todos da ColômbiaO garçom Alvaro, com os empregadores Claudia e Juan: todos da Colômbia
                                    

O colombiano Alvaro Andrés Lozano Abreu mora em Londrina há cerca de quatro meses, desde quando conseguiu um emprego como garçom no recém-aberto Mexicolombia Restaurante, mas vive no País já há três anos. Ele veio em busca de trabalho e para conhecer cultura e lugares diferentes, de olho também na Copa do Mundo de 2014. 

Empregado em um restaurante, morou inicialmente em Manaus, onde também trabalhou em restaurante. Lá, conheceu a atual namorada e desde então passou por Macapá e Recife, a trabalho, e a inúmeras cidades em busca de oportunidades, sempre com a ajuda de amigos e familiares que moram no Brasil. 

Quando estava em Marília, um amigo disse que Londrina oferecia boas oportunidades e, ao saber da abertura de um restaurante de comida colombiana, procurou o proprietário, Juan Sebastian Silva Gutierrez. "Fiz amizade, porque aqui trabalhamos como uma família, e estou feliz porque é uma cidade bonita, com pessoas muito bacanas, amigáveis, e com muitos lugares para passear", conta Abreu. 

Para o proprietário do restaurante, que tem a mulher, Claudia Marcela Pulido, e mais dois familiares como força de trabalho, foi importante encontrar um conterrâneo, em Londrina. "Eu o conheci quando ele veio comer aqui e preferi trabalhar com um colombiano, porque conseguimos nos entender bem, ele também fala bem e entende português, e é muito esforçado e alegre no serviço", diz. 

Como o restaurante funciona no almoço e no jantar, além de ter uma lanchonete com café colombiano durante o horário comercial, Gutierrez gostaria de ter mais dois funcionários, mas espera se estabelecer antes de contratar mais pessoas. Ele mesmo acabou em Londrina depois de abrir um restaurante em Santiago, no Chile, e em Curitiba, cidades em que não se adaptou ao clima. "Gostei daqui porque sou o único restaurante que une cozinha colombiana e mexicana", diz. "Estamos conseguindo nos sustentar, o que é o importante, porque estamos no começo e temos muito o que andar", completa o empresário. 

                                    

Imigrantes são importantes para economia 

A teoria de que os imigrantes ocupam vagas de trabalho que deveriam ser de brasileiros não se sustenta mesmo com o aumento do desemprego no País devido à crise econômica. O presidente do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social), Julio Suzuki Júnior, afirma que é importante entender que o Brasil já entrou em um movimento de transição demográfica, com a redução da natalidade e o envelhecimento da população. "Claro que não é para hoje, mas a incorporação da mão de obra estrangeira é favorável pela perspectiva de longo prazo, que ajudará no crescimento econômico nas próximas décadas." 
Ele lembra que os 13,8 mil imigrantes com carteira assinada representam somente 0,5% dos 3 milhões de trabalhadores paranaenses. Houve um crescimento de 277% dessa população desde 2010 no Paraná, período em que a economia crescia e o mercado de trabalho estava aquecido. Porém, a crise fez com que o número caísse 17% do recorde registrado em 2015, quando foi de 16,6 mil.  

              

Fonte: Folha de Londrina, 20 de novembro de 2017