Por Raphael Di Cunto, Valor — Brasília

uma posição contrária à do presidente Jair Bolsonaro, que tem organizado videoconferências com empresários para defender a reabertura da economia, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), discordou nesta quarta-feira de um empresário que cobrava o funcionamento dos shoppings e defendeu que o Brasil precisa testar antes a população sobre o grau de contágio da covid-19.

O presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Glauco Humai, reclamou que há prefeitos falando em lockdown, o que aumentaria o período de fechamento dos shoppings para 80 ou 90 dias, que já tiveram perdas de R$ 25 bilhões, e disse que isso era um absurdo porque as empresas aguentam no máximo 50 dias fechadas. “Isso é um absurdo”, disse.

Ele também reclamou de projeto do deputado Hugo Leal (PSD-RJ) que criaria uma moratória entre as empresas por 120 dias e que está pautado para votação na quarta-feira.

Maia afirmou que já adiou a votação do projeto por entender que ele resolve um problema criando outros e que os parlamentares estão negociando alterações. E disse entender a preocupação com o tempo das medidas de isolamento social e que talvez o Brasil tenha adotado elas cedo demais, mas discordou da reabertura do comércio.

“Se não tiver o isolamento, o sistema de saúde como um todo vai colapsar. Teremos 70 mil mortes pelo vírus, mas também 70 mil mortos por outros problemas e que não terão atendimento”, disse.

Para Maia, o problema é que o Brasil testou pouco sua população e “isso nos tira, do meu ponto de vista, capacidade de prefeitos e governadores tomarem decisões mais claras”.

Disse ainda que os agentes comunitários de saúde poderiam ter sido organizados para distribuir máscaras, álcool em gel e orientação nas comunidades, assim como os hotéis que estão fechados poderiam servir para manter os idosos isolados.

“Podíamos estar fazendo muita coisa. Mas infelizmente esses passos não foram dados. Não estou culpando ninguém não, é um vírus novo, estamos aprendendo, mas essas coisas não aconteceram”, afirmou.

O presidente da Câmara evitou novos atritos com o presidente Jair Bolsonaro e comentou que, apesar das divergências, está buscando unidade entre os políticos para combater a crise econômica e o covid-19.

(Conteúdo publicado originalmente pelo Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor)