Por Alessandra Saraiva, Valor — Rio

A parcela de renda das famílias comprometida com dívidas atingiu em maio o maior patamar em quase três anos. É o que mostrou há pouco a Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) ao divulgar a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).

No levantamento, a fatia de famílias que se declararam endividadas no mês ficou em 66,5%, abaixo de abril (66,6%) mas acima de maio do ano passado (63,4%).

O quadro pode estar sendo influenciado pelo já elevado patamar de endividamento das famílias, observou Izis Ferreira. O percentual de renda familiar comprometido com empréstimos ficou em 30,3% em maio, acima de abril (30,1%), e de março do ano passado (30%), sendo o mais elevado desde novembro de 2017 (30,6%).

Izis observou que, na pesquisa, um indicador importante para mensurar grau de endividamento das famílias é o tópico "mais de 50% da renda comprometida com dívidas". Nessa faixa, estão 22,4% das famílias endividadas em maio. Em abril, esse porcentual era de 22%; em março do ano passado, 21,2% - e foi o maior desde dezembro de 2017 (22,6%), na série histórica das famílias que se enquadram nessa classificação.

Ao ser questionada se, com o quadro da pandemia, a tendência seria de maior endividamento das famílias brasileiras, a especialista comentou que há muitos fatores a serem levados em consideração.

Se, por um lado, as famílias contam com trajetória crescente de parcela do orçamento destinada a pagamento de dívidas, há uma oferta muito grande de liquidez e facilidades em acesso ao crédito, durante a pandemia. Por outro lado, os bancos também podem mostrar cautela em emprestar mais durante a crise atual, devido ao risco de inadimplência.

No entanto, a técnica comenta que, até o momento, pela Peic de maio, não há sinais de explosão em inadimplência. As famílias que declararam ter dívidas ou contas em atraso ficou em 25,1% em maio, abaixo de abril (25,3%) mas acima de maio do ano passado (24,1%). Mas, por outro lado, a parcela de famílias que não terão condições de pagar ficou em 10,6% em maio, acima de abril (9,9%) e de maio do ano passado (9,5%).

Outro aspecto causado pela crise, observou ela, é o cenário de inflação baixa - causada por redução de consumo durante a pandemia - pode ajudar a abrir espaço no orçamento das famílias. Isso pode aliviar, em parte, a necessidade de novas dívidas.

"Creio que até o momento não temos como dizer com certeza o que vai acontecer [com patamar de famílias endividadas]", observou ela, afirmando ser melhor esperar a evolução dos próximos meses, bem como os impactos da covid-19 na economia.

(Conteúdo publicado originalmente pelo Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor)