Por Ana Conceição, Valor — São Paulo

O pacote fiscal anunciado para combater os efeitos do coronavírus na economia e a recessão econômica vão deteriorar de forma expressiva o quadro fiscal brasileiro, diz o Goldman Sachs em relatório em que analisa os efeitos da pandemia em sete países da América Latina. Brasil - o que tem a dívida mais alta - e Peru devem ter os maiores déficits primários.

De acordo com estimativa do Goldman, o déficit primário brasileiro deve ficar entre 7% e 9% do PIB, enquanto a dívida bruta deve alcançar entre 87% e 91% do produto em 2020. Em 2019, o déficit primário foi de 0,9% do PIB e, a dívida, de 75,8%. Antes da pandemia, o Goldman Sachs estimativa déficit de 1,2% do PIB.

O déficit nominal, que inclui o pagamento de juros, iria para entre 11,5% e 13,5% do PIB. O Goldman Sachs estima que as medidas fiscais anunciadas pelo governo totalizem entre R$ 300 bilhões e R$ 400 bilhões, algo entre 4,1% e 5,5% do PIB estimado para 2020.

O banco calcula que os efeitos da pandemia sobre a economia brasileira podem provocar uma queda de mais de 8% na arrecadação de impostos do país, considerando uma elasticidade da arrecadação à atividade econômica de 1,5. Num exercício em que a elasticidade aumente para 2 para levar em conta uma deterioração no pagamento de tributos, a queda iria a mais de 10%. A estimativa do banco é que o PIB brasileiro caia 3,4% em 2020.

Para o banco, é essencial que a maioria das medidas fiscais recentes sejam de natureza temporária e que as autoridades adotem simultaneamente reformas e medidas de ajuste fiscal que apontem para um equilíbrio fiscal de médio e longo prazo.

“A inevitável deterioração de curto prazo dos saldos fiscais e indicadores de dívida pode aumentar as preocupações dos investidores sobre a sustentabilidade futura da dívida, a menos que as autoridades consigam comprometer-se, com credibilidade, em resolver questões de sustentabilidade fiscal tão logo a pandemia passe”.

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