Segundo a revista Época, documentos estão anexados ao acordo de colaboração premiada de executivos da J&F. Nenhum serviço teria sido prestado ao frigorífico

                    

Nota fiscais frias entregues pelos delatores da J&F no acordo de colaboração premiada revelam que empresas indicadas pelo presidente Michel Temer (PMDB) receberam, em 2010, R$ 2,2 milhões da JBS, segundo reportagem da revista Época. Segundo a delação da JBS, nenhum serviço foi prestado ao frigorífico do grupo J&F.

Os valores teriam sido pedidos por Temer ao empresário Joesley Batista, do da J&F, holding que controla a JBS. Em 2010, eles haviam acabado de se conhecer por intermédio do então ministro da Agricultura, Wagner Rossi, apadrinhado de Temer. Naquele ano, o peemedebista foi vice de Dilma Rousseff (PT) pela primeira vez.

Num primeiro encontro, Temer, segundo o relato da delação reproduzido por Época, pediu ajuda a Joesley. Mais especificamente, R$ 3 milhões em doações de campanha. O empresário se prontificou a colaborar, na expectativa de manter boas relações com Temer e de que suas empresas fossem beneficiadas.

Joesley pagou e empresas indicadas por Temer forneceram notas fiscais frias para simular serviços, que não foram prestados. Duas notas fiscais da Pública Comunicações, do marqueteiro Elsinho Mouco, citam “serviços prestados de planejamento estratégico de comunicação” em 2010.

Outras três notas fiscais, de R$ 80 mil cada, tratam de serviços da Ilha Produções, uma produtora que pertenceu ao líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi, filho de Wagner Rossi e aliado de Temer. A nota de 2010 cita serviços de “edição, captação e atualização de banco de imagens”. A JBS entregou o dinheiro, mas como no caso anterior nenhum serviço foi prestado. Foi apenas uma maneira de repassar dinheiro ilegal a pedido de Temer.

Propina do BNDES rendeu R$ 1 milhão a Temer em 2014

Em outra reportagem, a revista Época diz que o então vice-presidente da República, Michel Temer, recebeu R$ 1 milhão em dinheiro vivo, em setembro de 2014, a mando do lobista Ricardo Saud, executivo da J&F. O dinheiro teria sido entregue ao coronel João Baptista Lima Filho, amigo do peemedebista, em São Paulo.

O R$ 1 milhão tinha origem no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Os aportes do BNDES na JBS proporcionados pelo governo petista custavam um pedágio de 4%, num acerto feito anos antes por Joesley Batista com o então ministro da Fazenda, Guido Mantega.

O dinheiro foi estocado em duas contas nos Estados Unidos, cujo saldo superou os US$ 150 milhões, segundo Época. Na campanha de 2014, a mando de Mantega, começou a ser distribuído. Para Temer, especificamente, foram destinados R$ 15 milhões – ele ficou com parte em dinheiro vivo e repassou valores para correligionários, como o deputado Baleia Rossi (PMDB-SP), que teria recebido R$ 150 mil. Já para o então deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje preso da Lava Jato, foram R$ 3 milhões.

Naquele eleição, a JBS financiou centenas de políticos com quase R$ 600 milhões – R$ 433 milhões em doações oficiais e R$ 145 milhões em pagamentos a empresas indicadas por políticos e dinheiro vivo. As informações contam da delação premiada de executivos da J&F.

                          

Outro lado

O secretário de Comunicação da Presidência da República, Márcio de Freitas, disse, por meio de nota à revista Época, que o presidente Michel Temer “jamais ordenou ao meliante Joesley Batista qualquer pagamento a quem quer que seja. Nem o fez a nenhum de seus capangas”. Diz que “nunca houve pedido de pagamento ao coronel João Baptista Lima. A delação é uma peça de ficção, baseada em mentiras e ilações”.

O marqueteiro Elsinho Mouco afirma, em nota, que prestou serviços de comunicação à JBS e atuou no marketing político em duas pré-candidaturas ao governo de Goiás de Júnior Batista, irmão de Joesley. Em nota, a Ilha Produção informou que “em 2010, a Ilha produziu, captou e entregou para o Grupo JBS um vasto banco de imagens produzidaos com qualidade cinematográfica, em formato full HD, e o mais importante, de direitos restritos. Foram entregues, ao todo, mais de 70 minutos de imagens produzidas, centenas de cenas em locações das mais variadas. Foi feita também uma montagem, editada, com imagens e marca do Grupo. Nossa equipe visitou uma série de cidades para captar essas imagens. A Ilha Produção emitiu nota fiscal, e recolheu à Receita Federal os impostos devidos”.

O deputado Baleia Rossi afirmou que não se manifestará sobre um assunto relacionado à produtora.

                      

Fonte: Gazeta do Povol, 02 de agosto de 2017