Mercado aposta num corte de um ponto porcentual, de 10,25% para 9,25%, na reunião do Copom que começa nesta terça-feira (25).

A taxa básica de juros brasileira, a Selic, voltará ao patamar de um dígito durante a 208ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa nesta terça-feira (25) e termina na quarta-feira (26). Faz três anos e oito meses que a taxa, balizadora dos juros de mercado, está em dois dígitos. Na reunião de 27 de novembro de 2013, ainda no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), foi elevada de 9,50% para 10% ao ano. Subiu até atingir 14,25% em julho de 2015. E permaneceu neste nível até agosto de 2016, já sob a presidência de Michel Temer (PMDB), quando teve início uma curva descendente até a última reunião do Copom, em abril deste ano. A expectativa é que, agora, a taxa caia de 10,25% para 9,25%. 

Juros baixos eram uma das principais bandeiras da ex-presidente. Mas, diante de uma inflação que ameaça sair do controle, seu governo não conseguiu mantê-los em um dígito por muito tempo (apenas de março de 2012 a novembro de 2013). Nos últimos meses, devido ao escândalo de corrupção que envolveu Temer, o mercado chegou a revisar para baixo a velocidade da queda da Selic. Mas, diante do índice oficial da inflação, o IPCA, que ficou negativo em 0,23% em junho, os analistas estão certos de que o corte será de um ponto porcentual. 

"O corte será de um ponto. Só haveria um motivo para o Banco Central tornar a queda da Selic mais lenta, que é a inflação. E tudo indica que, mesmo com a alta dos combustíveis (devido ao aumento de impostos da semana passada), os preços estarão sob controle", afirma o economista e professor da Faculdade Paranaense (Faccar) Márcio Massaro. 

Embora os juros estejam em queda desde meados de 2016, ele diz que ainda vai demorar alguns meses para que as empresas tenham coragem de tomar dinheiro no mercado e investir. "Há vários indicadores econômicos apresentando melhoras, menos os de emprego. Enquanto o desemprego não diminuir e consequentemente o consumo das famílias não aumentar, não haverá uma retomada", afirma. O mercado estima que o Brasil vai fechar o ano com um crescimento pífio de 0,34%. 

                                    

                          

SOB CONTROLE 

Também economista, colunista da FOLHA e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Marcos Rambalduci é outro que aposta no corte de um ponto porcentual na Selic. "A inflação está muito bem controlada e os juros reais ainda estão mais altos que em 2015", justifica. Na maior parte daquele ano, a taxa ficou em 14,25%. E a inflação girou em torno de 8,5% ao ano. Ou seja, o juro real era de 5,75%. Agora, com Selic a 10,25% e inflação a 3% ao ano, o juro real é de 7,25%. "A ata do Copom que abria possibilidade de redução da velocidade da queda da Selic não faz sentido agora." 

Rambalducci explica por que não houve retomada da economia, apesar da queda dos juros: "Com esse endividamento do governo, que chega a R$ 3,5 trilhões, o empresariado fica desconfiado de que a queda da Selic não é para valer", afirma. 

Isso porque, com juros baixos, o governo não consegue captar recursos para se financiar. "O empresariado está em compasso de espera. Precisa se sentir mais confiante em relação ao futuro." 

Questionado sobre a diferença entre a atual curva descendente de juros e a do governo Dilma, ele conta: "No governo Dilma, houve uma queda forçada. Havia uma inflação elevada e mesmo assim ela continuou a reduzir os juros. Tentava controlar a inflação artificialmente, segurando os preços da energia e dos combustíveis. A situação agora é muito diferente", analisa.

                                          

Fonte: Folha de Londrina, 25 de julho de 2017