Mais um duro ataque à classe trabalhadora brasileira, em especial às mulheres, foi desferido ontem. A reforma da Previdência é cruel para todos, mas ainda pior para nós.

Por Abigail Pereira*

Afinal, nós passamos a vida nos dividindo entre o trabalho, estudos, o cuidado à família e as tarefas domésticas e ganhando salários em geral menores do que os dos homens. Pelas novas regras, que prevêem período de transição, as mulheres passarão a ter de trabalhar até os 62 anos com ao menos 15 anos de contribuição. E neste caso, terão direito a apenas 60% do valor do benefício. Para ter acesso a 100%, serão necessários 35 anos de contribuição. Além disso, o cálculo geral dos benefícios para homens e mulheres levará em consideração a média de todas as contribuições, o que reduz o valor final (hoje, os 20% mais baixos são descartados).

Num momento da vida em que devemos estar sendo assistidas, descansando, cuidando da saúde e curtindo a família, vamos estar ainda trabalhando para garantir nossa sobrevivência. Ao invés de atacar privilégios que tornam a nossa sociedade tão desigual, Bolsonaro prefere retirar de quem menos tem. Aliás, se dependesse dele e do ministro Guedes, até o Benefício de Prestação Continuada (BCP), que ajudava os mais vulneráveis, teria sido eliminado!

Ao longo dos últimos meses, um verdadeiro balcão de negócios foi instituído pelo governo e uma série de propagandas com estrelas populares, pagas com dinheiro público, montaram o cenário necessário para impor a aprovação da reforma. E assim, mesmo tendo havido mobilização nas redes e nas ruas em dezenas de cidades, envolvendo milhares de pessoas; apesar dos inúmeros debates e estudos mostrando as injustiças da reforma, as falácias que envolvem o suposto déficit e o discurso mentiroso de que a reforma vai melhorar a economia e a geração de emprego, a maioria do Congresso, à qual repudiamos, resolveu votar a favor da reforma e contra o povo.

Deixamos aqui nosso profundo agradecimento a todos aqueles e aquelas que se dedicaram a esta luta em todas as frentes, na Câmara e no Senado. Não vamos desanimar, nem nos entregar. Vamos seguir atentos, unidos e mobilizados para reverter essas e outras perdas e resistir aos ataques que este governo autoritário, machista e antipovo tenta impor ao nosso país.


*Abigail Pereira é pedagoga, sindicalista e vice-presidenta do PCdoB-RS.