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Países do G20 não venderão papéis dos EUA

Segundo negociadores, rebaixamento da nota americana pela agência S&P não espantará investidores, entre eles o Brasil

Representantes das grandes economias negam ter intenção de vender seus títulos, o que afastaria o caos 

CLÓVIS ROSSI, COLUNISTA DA FOLHA


Os países do G20 não pretendem mudar a gestão de suas reservas, o que significa que não há nenhuma intenção de desfazer-se dos títulos do Tesouro norte-americano, apesar de os EUA terem perdido, na sexta-feira, o triplo A que mantinham há 70 anos, conforme anúncio da agência Standard & Poor's.

A constatação emergiu de uma teleconferência entre os negociadores dos ministérios de Economia e do Banco Central dos 20 países que representam as maiores economias do planeta, realizada na noite de sábado.

Brasil e Coreia foram explícitos no anúncio de que não venderão os papéis dos EUA; nenhum país manifestou intenção oposta, nem mesmo a China, que cobrou no sábado o saneamento das contas norte-americanas.

Pelo menos dois terços da dívida dos EUA estão de posse de países do G20. A maior parcela (cerca de US$ 10 trilhões de um total de US$ 14,270 trilhões) é dos próprios norte-americanos, que obviamente não pretendem se desfazer dos títulos.

Apesar dessa avaliação relativamente tranquilizadora, os representantes do Tesouro e do Fed, o banco central dos EUA, admitiram abertamente que o rebaixamento da classificação norte-americana levará instabilidade aos mercados e, por extensão, alguma ou muita volatilidade.

O que tanto o Tesouro quanto o Fed trataram de fazer na teleconferência foi tranquilizar, na medida do possível, quanto a eventual venda de títulos, esta sim capaz de provocar tremenda instabilidade.

Os representantes de Washington disseram a seus pares que não esperavam grande movimento de vendas porque a degradação da nota já era esperada (havia sido pré-anunciada pela S&P) e porque as duas outras grandes agências (Moody's e Fitch's) não acompanharam o movimento de rebaixamento.

As autoridades norte-americanas disseram ter indicações de que mesmo os fundos de investimento mais conservadores não pretendem desfazer-se dos papéis. Quanto mais conservador é o fundo, maior é sua propensão ou obrigação de desfazer-se de papéis que não tenham o triplo A de todas as três agências, um oligopólio que controla 95% do mercado.

A Europa foi menos tranquilizadora na sua manifestação: os representantes europeus admitiram que precisam ser mais rápidos na implementação do pacote aprovado faz menos de um mês, o que é, de resto, uma exigência dos mercados.
Os europeus disseram a seus pares que o pacote reduziu a carga sobre a dívida grega, que segue sendo o grande cavalo de batalha que acaba contagiando os gigantes Espanha e Itália. Mas, enquanto não for implementado, inclusive deixando mais explícita qual será a contribuição privada, os mercados continuarão instáveis.

Se é assim, agosto será um mês alucinante, porque os europeus disseram que só em setembro os 17 Parlamentos da eurozona estarão em condições de aprovar o plano, até porque estão todos eles gozando o recesso de agosto.
Só quem tem condições de atuar com a velocidade que demandam os mercados, disseram os europeus, é o Banco Central, que de fato se dispõe a fazê-lo.

AMEAÇA

O diretor-gerente da agência de classificação de risco S&P, John Chambers, disse haver uma em três chances de que a nota norte-americana seja rebaixada no período que vai dos próximos seis meses a dois anos.

Fonte: Folha de S.Paulo, 8 de agosto de 2011

 

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