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Redes sociais ajudam a combater machismo no trabalho, diz especialista

JÚLIA ZAREMBA
DE SÃO PAULO


A exposição nas redes sociais de situações desagradáveis vividas no trabalho por mulheres, especialmente as mais jovens, indica que ainda há obstáculos a serem superados rumo à igualdade de gêneros no meio corporativo.

Mas é preciso reconhecer que essas mídias têm sido úteis no combate ao machismo e à misoginia e devem tornar esses ambientes corporativos mais amistosos para as mulheres nos próximos anos.

É o que acredita a norte-americana Anne Krook, autora do livro "'Now What Do I Say?': Practical Workplace Advice for Younger Women" ('E agora o que eu digo?' recomendações práticas para mulheres mais jovens no ambiente de trabalho).

À Folha, ela diz que a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA pode piorar a atmosfera em locais de trabalho nos EUA, já que o republicano ajudou a "tornar 'normais' comentários terríveis sobre as mulheres".

  Divulgação  
A escritora Anne Krook
A escritora Anne Krook

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*Folha - O que caracteriza as mulheres da geração Y
Anne Krook - O desejo de ver mudanças mais rapidamente e a disposição de conduzir essas alterações por meio das redes sociais. Além disso, poucas delas terão pensões tradicionais, o que as torna mais dispostas a mudar de emprego.

Elas têm mais dificuldade para entrar no mercado de trabalho do que os homens?
Depende. Se é um trabalho em um campo tradicionalmente masculino, como muitos na área de tecnologia, a resposta é sim.

Isso está mudando?
Sim, mas ainda existe um longo caminho pela frente. Foi criada, por exemplo, uma hashtag no Twitter (#everydaysexism) que mostra as situações com que as mulheres têm de lidar no trabalho e até em suas famílias.

Com base nos relatos que você recebe, quais são as frases que as mulheres escutam com mais frequência?
São muitas. Serem chamadas de "menina" em vez de "mulher" é algo que as rebaixa. Os funcionários do sexo masculino não são chamados de "meninos".

Como lidar com os problemas sem tornar inviável a rotina no trabalho?
É muito importante identificar colegas que estejam ao seu lado e pedir a eles que deem mais voz às mulheres. Além disso, é fundamental que jamais deixem que a discriminação racial e a misoginia passem sem resposta.

Essa geração está reagindo melhor a esses problemas do que as anteriores?
Às vezes. Elas esperam que o ambiente de trabalho seja melhor do que é, então, às vezes ficam muito frustradas. Mídias sociais ajudaram nesse sentido, já que elas podem compartilhar rapidamente suas experiências e também receber apoio.

Como você imagina o ambiente de trabalho para as mulheres mais jovens daqui a 20 anos? Será melhor?
Acredito que sim, principalmente porque as redes sociais estão expondo as situações vividas por elas no ambiente corporativo.
Muitas pessoas acreditam que essa realidade está melhor do que há 20 anos, porém leem os relatos nas mídias sociais e percebem que ainda existem casos deprimentes. O ambiente de trabalho atualmente é melhor para muitas pessoas, mas não para todos, especialmente para as mulheres que não são brancas.

Você acha que a eleição de Donald Trump pode influenciar a rotina de trabalho das mulheres nos EUA?
Trump ajudou a tornar "normais" comentários terríveis sobre mulheres na vida pública. Por isso, foi acusado de assédio. Esse comportamento nojento também provocou discussões sobre como é a vida de uma mulher no trabalho. O debate é positivo, mas, de modo geral, acredito que a eleição dele pode contribuir para tornar a atmosfera mais hostil em alguns locais de trabalho.

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RAIO-X
ANNE KROOK

FORMAÇÃO
PhD em literatura inglesa pela Universidade de Cornell, nos EUA

CARREIRA
Foi professora assistente na Universidade de Michigan (EUA) e trabalhou por 13 anos na Amazon. Hoje é uma das diretoras da Lambda Legal Defense and Education Fund, entidade que luta pelos direitos de lésbicas, gays, transexuais, bissexuais e portadores de HIV

LIVRO
"'Now What Do I Say?': Practical Workplace Advice for Younger Women" (2014), sem versão em português

Fonte: Folha de S.Paulo, 20 de novembro de 2016.

 

 

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