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O que você faz com o seu tempo?

 

Estudo mostra que 35% dos brasileiros se dizem escravos das rotinas. Novas tecnologias e acúmulo de tarefas dão a sensação de mais velocidade

 

Apesar de ser mensurável, o tempo não pode ser poupado, o que dá uma estranha sensação de que cada segundo escapa pelos dedos. Por essa razão, 35% dos brasileiros se sentem escravos da rotina, de acordo com um levantamento realizado pelo Ibope Inteligência.

Mudança de postura

Aproveite a vida, ao invés de gastá-la

Quem nunca perdeu algum compromisso pessoal por razões profissionais e depois teve a sensação de vazio por não ter vivido algo que gostaria? O publicitário Maurício Ramos, de 48 anos, também já passou por essa situação. Ele não encontrava tempo para dar atenção aos filhos, de 10 e 4 anos.

Dois fatos o fizeram repensar sua rotina: a perda da passagem de faixa no judô de seu filho e o trabalho feito para uma ONG sobre a importância da meditação. “Eu vi que estava abrindo mão de atividades que geravam valor emocional por causa do trabalho. Vi que precisava administrar melhor o tempo”, conta.

Adotou meditações todas as manhãs. Levou a ideia para a agência, onde os funcionários podem dar uma pausa na rotina. “Cinco minutos esvaziando a mente foram suficientes para reorganizar a vida”, garante. Professor de Filosofia da PUC-PR, Jelson Oliveira salienta que o caminho para dar mais controle ao próprio tempo é buscar atividades que gerem prazer. “Como a sensação de passagem de tempo é psicológica, é preciso fazer algo que gere satisfação. A lógica de produção, em que se perde tempo, deve ser substituída pela ideia de entretenimento, para dar a noção de que o tempo esteja sendo aproveitado”, explica.

5 minutos

A ONG Mão Sem Fronteiras afirma que cinco minutos de meditação diária são suficientes para aumentar a qualidade de vida. Para ajudar nessa missão, criou um aplicativo para celular, o Meditômetro. Todos os minutos meditados são contabilizados e já somam 1.014.985 minutos. Conheça a ideia: www.eumedito.org

Nadismo

Para garantir mais tempo para si e desmistificar o conceito de que “fazer nada” não rende algo, o movimento já conta com mais de 7 mil sócios. A ideia é simples: basta encontrar um lugar relaxante, colocar o celular no silencioso e “nadear”, verbo que designa o esvaziamento da mente. Conheça o movimento em www.clubedenadismo.com.br

O estudo analisou, pela primeira vez, como os brasileiros fazem uso e como se relacionam com o tempo, destacando diferenças regionais e determinando perfis com base nas entrevistas. Foram identificados dois tipos de pessoas: aquelas que se relacionam com o tempo observando a passagem na vida e outros que interagem diretamente com o cotidiano.

“A pessoa que se sente escrava é aquela que está sempre correndo atrás do tempo perdido. Geralmente, acumula muitas tarefas sem conseguir se planejar para a execução”, explica Silvia Cervellini, diretora executiva de negócios do Ibope Inteligência.

Mas o tempo está passando mais rápido hoje do que na época de nossos avós? O que mudou, diz Lauro Luiz Samojeden, chefe do Departamento de Física da UFPR, é que, com a celeridade das informações e o acúmulo de tarefas, a sensação é de que o tempo está passando com mais velocidade.

Foram as máquinas e as novas tecnologias que deram um novo ritmo ao uso do tempo pelos homens, explica o professor de Filosofia da PUCPR, Jelson Oliveira. Para ele, as máquinas surgiram com a promessa de abreviar o tempo de produção, mas essa estratégia deu mais tempo para que fossem acumuladas novas tarefas – a pesquisa mostra que 22% dos brasileiros dizem realizar atividades simultâneas, índice que na Região Sul é de 43,5%.

“A tecnologia abreviou o tempo, mas fez com que as pessoas estejam conectadas sempre, ampliando a sensação de mais tarefas e menos tempo. Esse novo ritmo está moldando as relações humanas, incluindo nos relacionamentos uma desculpa pronta: a falta de tempo”, acrescenta Oliveira.

O desafio de conciliar as atividades

O acúmulo de atividades é o principal motor para causar a sensação de escassez de tempo, com um adicional: somos reféns da tecnologia. A pedagoga Sarai Batista Agibert, de 49 anos, sente que está sem tempo. Ela trabalha, ajuda a cuidar dos pais, dá atenção à filha, sem se descuidar dela mesmo. Para evitar o estresse e a ansiedade, incluiu na rotina meditação e orações. “O celular contribui para sermos escravos do tempo. Hoje ele é completamente imprescindível e um gerador de ansiedade.”

Acorda, vai trabalhar, foge para a academia na hora do almoço, volta para o ofício, vai para a faculdade, estuda, volta para casa, dorme. É assim dia após dia. “Sou um escravo do tempo”, admite o servidor público Allan Rodrigo de Lima, de 24 anos. De segunda a sexta ele tenta dar pausas na rotina para garantir um tempo para si. “É difícil conciliar as obrigações com atividades de lazer, como se divertir com os amigos ou passar mais tempo com a família. Minha rotina é cheia durante a semana, mas tento controlar ao menos meus sábados e domingos.”

 


Fonte: Gazeta do Povo
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