Imprimir

Greve de professores e escolas ocupadas colocam pressão no governo Richa

Executivo marcou reunião com todos os sindicatos dos servidores para expor as possibilidades financeiras do estado


por Euclides Lucas Garcia



Quando após uma série de ajustes fiscais desde o fim de 2014 o governo passava a imagem de que o alívio nas contas traria a calmaria necessária para o estado deslanchar, a decisão de suspender a data-base do funcionalismo público voltou a colocar pressão sobre o Palácio Iguaçu. E o cenário, a exemplo de 2015, vai se desenhando de forma nada promissora para o governador Beto Richa (PSDB). Professores estaduais e universitários em greve, insatisfação dos servidores e, como agravante, escolas ocupadas por estudantes contra a reforma do ensino médio proposta pela União.


No ano passado, para pôr fim a uma greve de 44 dias dos docentes estaduais, o governo aprovou na Assembleia Legislativa um escalonamento do reajuste salarial do funcionalismo até 2017. Pela legislação, em janeiro do ano que vem, seria paga aos servidores a inflação deste ano acrescida de 1%. Agora, porém, o Executivo argumenta que a prioridade é zerar o passivo de progressões e promoções, que custará R$ 1,4 bilhão. Nesse cenário, o reajuste – ao custo total de R$ 2,4 bilhões – será postergado de acordo com a disponibilidade financeira. Poderá ficar até mesmo para 2018.


Essa postura foi o estopim para recolocar os professores em estado de greve a partir desta segunda-feira (17). A paralisação pode prejudicar mais de 1 milhão de alunos nas 2,1 mil escolas espalhadas pelo Paraná, às vésperas do Enem e do vestibular de fim de ano. Além disso, já são mais de 500 instituições ocupadas em protesto à Medida Provisória do governo federal que mexe no ensino médio.


Na tentativa de debelar essa crise que se avizinha, o governo marcou uma reunião com todos os sindicatos dos servidores na próxima quarta-feira (19) para expor as possibilidades financeiras do estado. Em paralelo, Richa se encontrará em Brasília na terça-feira (18) com o ministro da Educação, Mendonça Filho, na busca de uma solução para as escolas ocupadas.


“Pedimos a suspensão da tramitação da emenda [que adia o reajuste] para que possamos evoluir para um bom entendimento. Vamos esgotar o diálogo e, se necessário, o projeto só será votado no final de novembro”, afirmou o chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni (PSDB). “Mas não há milagre. O momento é de crise em todo o país. E nossa prioridade é pagar o passivo para só então fazer novas contas.”

Sindicato diz que governo quebra acordo feito com funcionalismo


Presidente da APP-Sindicato, que representa os professores estaduais, Hermes Leão afirma que a tentativa do governo de partidarizar o debate em torno da greve e criminalizar a militância sindical desconsidera a pauta de reivindicações defendida pelos docentes e por várias outras categorias. Ele ressalta que o Executivo adota a mesma postura da paralisação de 2015, apesar de pesquisas à época mostrarem 90% dos paranaenses em apoio à paralisação. “Trata-se de uma guerra de propaganda, numa clara distorção antidemocrática e autoritária de Richa e sua equipe contra o movimento sindical.”


Segundo ele, o funcionalismo não está exigindo nenhum “direito novo”, mas apenas o cumprimento da legislação, que estabelece o pagamento da data-base em janeiro. Leão ainda critica o discurso do governo de que não há caixa para bancar o reajuste. “No ano passado, o discurso foi o mesmo. Começaram com reajuste zero e foi possível chegar a um acordo, mesmo em meio a um cenário econômico mais difícil do que esse de agora”, diz. “Essa escolha de quebra de compromisso por parte do governador é uma decisão puramente política, e não por impossibilidade técnica-financeira.”



Estratégia


Nos bastidores, o governo aposta que o sindicato dos professores não terá o respaldo da maioria da categoria nem tampouco de pais e alunos. Uma estratégia defendida por aliados de Richa é apostar numa ampla campanha de comunicação na imprensa que mostre o equilíbrio das contas do Paraná na comparação com os outros estados e o prejuízo que todos terão se o ano letivo – que já está comprometido pela greve de 2015 − for paralisado.


“É chegado o momento de entender que o país está sendo varrido em função da crise. É só olhar para o setor privado. É preferível ter um valor menor no salário agora, mas com o pagamento em dia, do que sequer conseguirmos honrar a folha”, defendeu o presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano (PSDB).





Fonte: Gazeta do Povo, 17 de outubro de 2016.

Rua Doutor Faivre, 888 - Centro - Cep. 80060-140 | Curitiba - Paraná | Brasil
Fone: (41) 3264-4211 - Fax: (41) 3264-4292 | Email: fetraconspar@fetraconspar.org.br