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Jovens sindicalistas

João Carlos Gonçalves, Juruna*

Sou sindicalista há mais de 40 anos. Minha trajetória deu uma base sólida para que eu me transformasse não apenas em um diretor, formal, burocrático, mas em um dirigente sindical e de classe. Aprendi que um trabalhador não se torna um dirigente sindical de uma hora para outra. Um dirigente se forma com experiências e dedicação. Aprende a olhar longe, e para todos os lados, na política e no movimento social.
Da mesma forma que as experiências de vida me ensinaram a importância da formação do sindicalista, acho importante transmitir essa ideia aos sindicalistas jovens, recém ingressos nas diretorias dos sindicatos.

Para isso fiz um esforço de tentar resumir em alguns itens ações que considero fundamentais para a transformação de diretor em dirigente de classe.
Busquei, neste primeiro texto, focar em ações do campo intelectual e da comunicação. Portanto, além das atitudes elementares de um dirigente como: ser solidário, ser comprometido com os trabalhadores, participar de greves e manifestações junto com seu sindicato, falar bem em público e ser um cidadão exemplar, sugiro:

1 – Manter-se bem informado sobre a situação política, econômica e social do país
É importante ler e assistir os grandes jornais, a chamada grande imprensa, porque estes veículos possuem uma maior cobertura política e econômica. Através deles se pode ficar sabendo o que está acontecendo e qual o principal debate naquele momento. Além disso os grandes jornais pautam as notícias e conversas nos locais de trabalho.

Mas é fundamental desenvolver uma visão crítica da mídia, buscando detectar quais setores sociais, suas notícias e seus pontos de vista representam.
Muitos comentaristas, articulistas e formadores de opinião escrevem ou participam destes jornais. Acompanhar estas colunas ajuda muito a ter uma visão ampla e aprofundada dos fatos. Existem muitas visões interessantes sobre, por exemplo, a PEC 241, a reforma da previdência, a ocupação das escolas, etc.

E também ler diariamente mídias alternativas que apresentam uma visão diferenciada da grande imprensa.
É importante ser crítico, não ser sectário e ser aberto ao debate.

2 – Conhecer seu sindicato
Geralmente o próprio sindicato guarda em sua imprensa, ou com seus diretores, documentos, jornais, livros, fotos sobre a história da entidade. É legal buscar isso. Sabendo um pouco da história – a história da categoria, em que contexto o sindicato foi fundado, quais as diretorias que já passaram por ele, períodos históricos de maior acirramento, grandes greves e manifestações, qual sua tendência política majoritária, etc, nossa visão sobre o sindicato fica mais apurada e isso nos dá mais segurança para nos colocar como sindicalistas.

Existem instituições que guardam nossa história, como o Centro de Memória Sindical, que é uma entidade especializada na história dos Sindicatos, ou mesmo grandes arquivos, como o Arquivo Público do Estado de São Paulo. Estudar é condição sinequanon para a formação de um dirigente. Se não há tempo para ir por iniciativa própria, sempre é possível participar de debates, lançamentos de livros ou mesmo buscar na internet e visitar os sites destas entidadades.

Outra boa forma de conhecer a história é conversar com dirigentes sindicais. Muitos deles estão, como eu, há muito tempo no movimento. Já passamos por várias situações como, o fim da ditadura militar, o Conclat, a campanha pelas Diretas Já!, a fundação da CUT, da Força Sindical e das centrais hoje atuantes no país, etc. Saber da história através de quem a viveu é um privilégio e sempre rende boas conversas.

3 – Conhecer a história geral e a história das lutas sociais em seu país
Para saber a história do sindicato, a sua história, é essencial saber em que contexto ela se desenvolveu. E essa é a deixa para que o sindicalista busque conhecer a história do seu país.
A forma mais eficaz de conseguir isso é recorrer aos livros. Permito-me aqui afirmar que ler é uma atividade obrigatória. Ler sobre a história é um dever daqueles que estão comprometidos com a luta dos trabalhadores. Que, claro, estão fazendo a história.

E autores como Darcy Ribeiro, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Nelson Werneck Sodré, Jorge Ferreira, Elio Gaspari, são as indicações prioritárias desta biblioteca básica.
Há também autores especializados no movimento sindical ou no mundo do trabalho como: José Albertino Rodrigues, John French, Paula Beiguelman, Celso Frederico, Leôncio Martins Rodrigues, Heloísa de Souza Martins, Iram Jacome, Ricardo Antunes, entre outros.

Mas também é legal ficar de olho nas entrevistas ou matérias especiais nos jornais. Em geral os jornais apresentam pesquisas de muito boa qualidade e com formato e linguagem atuais.

4 – Buscar uma cultura geral
A cultura não deve ser vista apenas como lazer e entretenimento. Cultura, músicas, filmes, teatros, artes plásticas, etc, transmitem informações e ideias com uma linguagem própria. Consumir cultura enriquece o ser humano, aprimora a inteligência, melhora o discurso, nos ajuda a nos livrar de preconceitos, racismo, machismo, homofobia. Estas manifestações são fundamentais para formar nosso pensamento, nossa subjetividade e isso é fundamental para que o sindicalista possa compreender a diversidade étnica, cultural, política, sexual, social, etc, entre os trabalhadores.

5 – Redes sociais
Ninguém, muito menos um dirigente pode ficar alheio às redes sociais como importante instrumento de diálogo entre os trabalhadores e a sociedade como um todo. Participar do Facebook, Twitter, Whatsapp. Consultar a melhor forma de usá-lo, pode-se transformar em um instrumento poderoso, rápido e eficiente para falar com sua base. E principalmente ouvir as demandas.

Talvez nem seja necessário dizer isso aos jovens sindicalistas, que já dominam as redes sociais. Mas é importante enfatizar que estes novos instrumentos devem ser usados com seriedade e compromisso com a luta sindical.

Mesmo em suas contas particulares o dirigente é visto como alguém que representa o sindicato. Por isso deve-se tomar cuidado para, mesmo mostrando sua personalidade, não ser vulgarizar ou demonstrar qualquer descompromisso com a sociedade, seja através de preconceitos, seja através de mal exemplo de conduta social. Muitas vezes é ali que um companheiro ou companheira vai buscar sua opinião sobre determinado assunto.

Enfim: muitos de nossos dirigentes não tiveram a chance de ir ao terceiro grau. Muitos, mal frequentaram o ensino médio. Mas a prática, a análise da prática, o tentar de novo, a leitura complementar à ação, é que fez deles e fará de você um grande dirigente.

E com certeza, poderá ser um representante do sindicato, da federação e da Confederação; um conselheiro do município, do estado e do país. Que poderá compreender os problemas e os dilemas dos trabalhadores e contribuir da melhor forma para o avanço social!

Diretor, seja um dirigente! O Brasil e o nosso povo precisam!

(*) Secretário-Geral da Força Sindical.

Fonte: Diap, 5 de novembro de 2016.

 

 

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