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Brasil só cria vagas formais na faixa etária até os 24 anos, mostra Caged

 

Dentro das faixas salariais de até 24 anos, foram criadas 186.528 vagas.
Nos seis primeiros meses do ano, 531.765 vagas foram fechadas.

 

Marta CavalliniDo G1, em São Paulo

Levantamento obtido pelo G1 com o Ministério do Trabalho mostra que, de janeiro a junho deste ano, o saldo positivo de vagas formais está se restringindo às faixas etárias até 24 anos.

SALDOS DE VAGAS NO 1º SEMESTRE de 2016

Faixa etária

Saldo

Até 17

100.672

18 a 24

85.856

25 a 29

-113.957

30 a 39

-225.982

40 a 49

-153.974

50 a 64

-194.523

65 ou mais

-29.854

não classif.

-3

Total

-531.765

Fonte: Caged/Ministério do Trabalho

Em outro levantamento, em relação à faixa salarial, o saldo positivo de vagas formais está se restringindo a quem ganha até um salário mínimo.

Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), nos seis primeiros meses do ano, um total de 531.765 vagas foi fechado. Apenas no mês de junho, as demissões superaram as contratações em 91.032 vagas formais.

Mas dentro das faixas salariais de até 24 anos, foram criadas 186.528 vagas. Na faixa até os 17 foram 100.672 vagas geradas, e na dos 18 aos 24, foram 85.856 postos de trabalho.

Já as faixas etárias que mais fecharam vagas em 2014 foram dos 30 aos 39 anos e dos 50 aos 64 anos. Em ambas, o total de vagas fechadas foi de 420.505 vagas  (veja na tabela).

Razões
De acordo com Claudio Dedecca, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e especialista em mercado de trabalho, os mais jovens têm maior dificuldade de conseguir emprego, mas quando eles entram no mercado de trabalho têm menos tendência a serem demitidos. “São mais jovens, ganham menos, e a perspectiva de emprego é mais longa para eles”, diz.

Para Anselmo Santos, professor do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho do Instituto de Economia da Unicamp, isso é sinal de deterioração do mercado de trabalho. “O grosso da faixa etária disponível no mercado de trabalho é jovem. É ali que as empresas encontram pessoas para pagar menos”, diz.

“O que esse dado mostra é que os jovens estão ocupando o lugar de pessoas mais velhas, porque o Caged não pega quem está procurando emprego, e sim apenas o estoque de empregos formais”, ressalta Santos.

Dedecca enfatiza que o aumento do desemprego afeta mais os jovens que a população de maior idade. “O resultado do Caged parece ser contraditório com os dados de desemprego de outras pesquisas, que aponta a dificuldade de os jovens trabalharem”, diz.


O que esse dado mostra é que os jovens estão ocupando o lugar de pessoas mais velhas"

“É lógico que para o jovem vai aparecer saldo positivo. O mercado tem mais jovens. Com esse desemprego enorme, eles aceitam emprego com salário mais baixo. E a empresa tem tendência a demitir salários mais altos e promover salários mais baixos, para reduzir as folhas de pagamento. Por isso os salários estão caindo – na região metropolitana de São Paulo a queda real no salário chegou a 5%”, completa.

Santos salienta que, ainda que haja saldo positivo entre os jovens, isso não mostra melhora do emprego porque o saldo geral é negativo. “Esse saldo positivo entre os jovens não deixa de mostrar a deterioração do mercado de trabalho, porque revela redução de custos e de salário. Se fosse por outro motivo teria crescido entre as faixas etárias dos 25 aos 49 anos, que são os segmentos mais qualificados. O movimento de melhoria não vem pelos jovens”, afirma.

Setores
Segundo Dedecca, sem dúvida o setor que mais contratou jovens foi o de serviços, englobando principalmente telemarketing, além do comércio, especificamente vendas em lojas.

“Segmentos com perfil jovem contratam só os jovens, como o de telemarketing, e é neles que os mais novos levam vantagem sobre os mais velhos na contratação”, diz Dedecca.

Para Santos, provavelmente essas vagas abertas vêm de setores com maior rotatividade de mão de obra, como comércio e serviços. “O emprego na indústria caiu muito. No setor privado como um todo caiu. O que cresce é emprego no setor de serviços. O trabalho por conta própria também cresceu, e não é o jovem que faz isso, é quem tem mais idade”.

G1 solicitou ao Ministério do Trabalho os principais setores que abriram vagas para as faixas etárias com saldo positivo de vagas e aguarda resposta.

Idade x salário
Segundo Dedecca, não há relação entre as contratações aumentarem entre os mais novos e caírem entre os mais velhos. “Os setores que podem estar preservando os jovens podem não ser os que estão demitindo os mais velhos”, diz.

Já o saldo de vagas ter sido positivo entre os mais jovens e na faixa salarial até 1 salário mínimo tem coerência, segundo ele. “Qualquer resultado em termos de mercado de trabalho vai ser marcado por uma associação com o salário mínimo. Os jovens ganham menos que os mais velhos. Os jovens têm uma concentração de remuneração muito elevada em torno do salário mínimo”, diz.

Segundo ele, em relação ao saldo negativo entre as idades mais avançadas, as empresas selecionam as pessoas que vão demitir considerando a possibilidade de elas se aposentarem para atenuar o impacto da redução do nível de emprego sobre os empregados. “Nós estamos falando de um estoque de vagas, considerando a perspectiva que o empregado tem para a própria empresa e o menor impacto da demissão para o empregado”, afirma. Segundo ele, é uma questão de estratégia demitir, não só para contratar.

Já Santos não acha que haja relação entre o salário menor e a faixa etária mais baixa, mas sim com o fato de as empresas estarem demitindo quem ganha mais e contratando para pagar menos. “A empresa tem uma estrutura hierárquica e ela vai demitir os que ficam mais tempo e ganham mais, e colocar no lugar os que estão abaixo e podem ser promovidos. E vão pagar menos para aquela pessoa que aceitar o cargo ganhando menos que o antecessor, porque o mercado de trabalho está complicado”, afirma.

Tendência
De acordo com Dedecca, a recuperação da economia afeta primeiro o nível de atividade, depois o nível de emprego e então o nível de renda. “Pode haver algum efeito positivo sazonal no fim do ano, com aquecimento das vendas, mas a renda será difícil crescer, continuará tendo tendência de declínio”, diz.

Para o professor Dedecca, não haverá grandes novidades no mercado de trabalho neste segundo semestre. “Pode haver alguma possibilidade de recuperação em termos econômicos, mas do ponto de vista do mercado de trabalho pode ser que seja no primeiro semestre do ano que vem, se a economia voltar a crescer, trazendo recuperação do emprego, e no segundo semestre de 2017 com efeito sobre a renda”, diz.

Para Anselmo Santos, o mercado de trabalho só reage com a economia. Se o PIB do país diminuir o ritmo de queda, o desemprego começa a crescer menos.

“Como a população economicamente ativa cresce, mesmo com a economia estabilizada, o desemprego vai continuar aumentando e até o final do ano vai continuar piorando. E menos que haja uma recuperada no final do ano por causa do Natal com as contratações temporárias, não haverá grandes mudanças que possam melhorar a expectativa e a sensação de o trabalhador arrumar emprego e ter salário maior, ao contrário, vai piorar, mas não no mesmo ritmo que estava piorando. Primeiro vem aumento da atividade, e depois do emprego”, prevê.

Fonte: G1, 14 de agosto de 2016.

 

 

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