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Corrupção e violência diminuem apoio de mais jovens à democracia

 

Estudo feito em vários países mostra que 45% dos eleitores mais jovens dizem apoiar ideia de golpe quando há corrupção

 

Os eleitores que vivem na maioria dos países das Américas acreditam, em geral, que a democracia é a melhor forma de governo e rejeitam golpes militares. Mas a corrupção e a criminalidade tendem a afetar essa percepção, principalmente entre os mais jovens. Análise feita pelo Núcleo de Jornalismo de Dados do jornal O Globo a partir do cruzamento dos microdados da pesquisa Projeto Opinião Pública na América Latina (Lapop, sigla em inglês) indica que, em situações de crise, eleitores entre 16 e 25 anos são mais propensos a aceitar golpes militares.

Pelos dados, colhidos em 28 países em 2014, cerca de 45% dos eleitores de até 25 anos consideram justificável que os militares tomem o poder quando há muita corrupção. Esse porcentual cai para 33% entre aqueles com mais de 55 anos. No caso de alta criminalidade, 40% dos eleitores de até 25 anos também acham justificável um golpe. Como no primeiro caso, esse porcentual é menor entre os mais velhos (30%).

 

48% dos brasileiros entrevistados pelos pesquisadores do Lapop disseram apoiar a ideia de um golpe de Estado em caso de altos índices de corrupção.

Luciana Veiga, cientista política e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pesquisa as relações de apoio à democracia na América Latina. Na sua avaliação, os resultados podem ser explicados por outros dados, como o fato de os jovens tenderem a levar mais em conta o desempenho da democracia do que a democracia como valor.

“Fizemos recentemente um estudo também com dados do Lapop e identificamos que, quanto mais jovem, menos chances a pessoa tem de apoiar as dimensões mais normativas da democracia, ou seja, a democracia como um valor. E, quanto mais jovem, mais críticas as pessoas são em relação ao desempenho do regime. A meu ver, a experiência com o regime ditatorial, ou uma maior proximidade com os anos de ditadura, implicaria mais recordação da repressão, que aumentaria a adesão à democracia como valor”, diz.

A pesquisa do Lapop, realizada pela Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, apresenta quase 50 mil entrevistas. No caso do Brasil, os dados sobre o apoio a golpes militares apresentam uma inversão. Aqui, os jovens tendem a discordar mais da justificativa de golpes militares, em caso de muita corrupção, quando comparado com os eleitores mais velhos. Mas, como o cruzamento por país apresenta maior variabilidade dos resultados, não é possível afirmar com certeza estatística se esse comportamento é mesmo diferente daquele identificado no total da amostra. No caso de muita criminalidade, os dados do Brasil se equivalem ao resultado geral da amostra.

No resultado geral, cerca de 66% dos entrevistados, considerando todos os países, não acham justificáveis golpes militares em caso de muita criminalidade. Quando perguntados sobre situações de muita corrupção, 61% também se dizem contra golpes militares. No ranking, o Paraguai lidera com a maior proporção de respostas positivas quando há muita corrupção: 56%. Em segundo, vem a Nicarágua (55%), seguida do México (53%). O Brasil aparece em sexto lugar, com 48% dos entrevistados que consideram justificáveis golpes militares.

A pesquisa Lapop perguntou também aos eleitores como eles se posicionam numa escala de esquerda-centro-direita. Na média geral, os países das Américas apresentam uma leve tendência à esquerda. Aproximadamente 35% se identificam com essa posição, enquanto 33% afirmam ser de centro, e outros 32%, de direita. O Brasil apresenta porcentuais muito próximos da média: 31% dos entrevistados se posicionaram ao centro, enquanto 35%, de esquerda, e 35%, de direita.

Fonte: Gazeta do Povo

 

 

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