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Jovem deixa o trabalho para depois

 

Mercado de trabalho perdeu 1,1 milhão de jovens em 2 anos

Dados da Pnad Contínua mostram que a força de trabalho brasileira está envelhecendo. Jovens adiam a procura por emprego para estudar

A entrada tardia dos jovens no mercado de trabalho e o envelhecimento acelerado da população estão transformando o cenário do emprego no Brasil. Na prática, a força de trabalho brasileira está envelhecendo. Em dois anos – do início de 2012 a dezembro de 2013 – o país perdeu 1,1 milhão de trabalhadores de 14 a 24 anos – metade porque a população dessa faixa etária está encolhendo. A outra metade é de jovens que saíram ou ainda não entraram no mercado de trabalho. Enquanto isso, o número de trabalhadores acima de 25 anos cresceu quase 6%, puxado principalmente pelo contingente de pessoas com 60 anos ou mais, que avançou 9% no período.

INFOGRÁFICO: Veja como está a presença dos jovens no mercado de trabalho

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Estudante tem apoio dos pais para para se dedicar à formação

Aos 20 anos, o estudante Daniel Mathias Guimarães faz parte do grupo que está se dedicando mais aos estudos antes de entrar definitivamente no mercado de trabalho. Aluno do quarto ano de Geologia em período integral, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Guimarães embarca em julho para um intercâmbio na Irlanda, onde vai aprofundar os estudos. A experiência fora do país veio por meio do Programa Ciência sem Fronteiras, do Ministério da Educação, e deve retardar em um ano a conclusão do curso. “Nunca me senti pressionado a conciliar a faculdade com um emprego fixo”, afirma. O rapaz mora com os pais e conta que sempre recebeu todo o apoio, inclusive financeiro, para que se dedicasse exclusivamente aos estudos. Com mais tempo livre, ele participou de um projeto de pesquisa como bolsista e fez estágio em uma empresa de consultoria mineral e ambiental. “Aprendi bastante no estágio. É uma experiência que prepara para o trabalho”, diz. Além disso, o estudante também teve tempo para aperfeiçoar o inglês, o que contribuiu para sua qualificação antes de chegar ao mercado de trabalho.

Nos últimos dois anos, a taxa de participação dos jovens na força de trabalho caiu quase três pontos porcentuais entre os de 14 a 24 anos. Esse grupo concentra também o maior índice de desemprego: 18,5% entre 14 e 17 anos, e 13,1% no grupo dos 18 aos 24 anos.

No curto prazo, a entrada tardia no mercado de trabalho ajuda a elevar a média salarial. Como a remuneração dos jovens é mais baixa do que dos demais profissionais, mais experientes e qualificados, a tendência é que os valores pagos a esses trabalhadores seja maior. Por outro lado, o déficit limita o potencial de crescimento do país. “Isso é ruim porque não voltaremos a ter o crescimento da força de trabalho jovem nos próximos anos, já que as famílias estão tendo menos filhos”, afirma Fernando de Holanda Filho, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A boa notícia, segundo especialistas, é que teremos profissionais mais capacitados no futuro. “O mercado de trabalho está sendo sacrificado agora para que lá na frente tenhamos trabalhadores qualificados. Há algumas décadas, a maioria dos jovens precisava abandonar os estudos para trabalhar. Hoje, as oportunidades estão mais distribuídas”, afirma Holanda Filho.

O aumento da renda contribuiu para o recuo na oferta de mão de obra jovem. Com mais dinheiro, as famílias estão bancando o estudo dos filhos. “Hoje, há um esforço para que os filhos façam uma graduação e se qualifiquem mais. Isso tira o peso do jovem de sair para a luta”, ressalta o professor de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Adilson Antônio Volpi. Além disso, as cotas sociais e raciais e programas como o Prouni também facilitaram o acesso de uma fatia importante desta faixa etária ao ensino superior.

Nem todos concordam, contudo, que a juventude está adiando a entrada no mercado de trabalho para estudar. Há um grande grupo – 18.388 milhões de indivíduos entre 14 e 24 anos, segundo dados na Pnad Contínua –, que está fora da força de trabalho. Esse contingente é formado por quem tem idade para trabalhar e está estudando, mas também contempla uma parcela significativa dos que nem estudam e nem trabalham, a chamada geração “nem-nem”. Embora faça parte da população em idade de trabalhar, segundo o IBGE, esse contingente não entra nas estatísticas do desemprego. Por algum motivo que nem mesmo os especialistas sabem identificar, essas pessoas desistiram de procurar emprego. O fato é que há alguns anos o mercado de trabalho não está atraindo os jovens. Se por um lado muitos estão preferindo esticar os estudos, outros simplesmente não são absorvidos por causa da baixa qualificação.

Qualificados, mas sem experiência

Se por um lado os jovens estão estudando mais e, portanto, devem chegar mais qualificados ao mercado de trabalho no futuro, por outro, esse atraso pode acarretar um problema diferente: a falta de maturidade para mundo do trabalho. Para o professor de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Adilson Antônio Volpi, a entrada tardia no mercado retarda também o desenvolvimento das relações pessoais, da percepção do funcionamento do universo do trabalho e da noção de hierarquia e funcionamento das empresas.

Na prática, eles chegam qualificados, porém, sem habilidades comportamentais para lidar com algumas situações. Boa parte não se sujeita a fazer determinadas atividades, é pouco flexível, ignora a hierarquia. Segundo especialistas, isso tem a ver com o novo perfil da juventude. “Eles são muito exigentes. Mesmo sem nunca ter trabalhado, querem fazer estágios com boa colocação e, principalmente, boa remuneração”, afirma a agente de estágio do CIEE Paraná, Juliana Fabril Losso. Ou seja, o ganho de produtividade em virtude da maior qualificação pode ser comprometido pela falta de maturidade dos profissionais.

Experiência

Não à toa, a rotatividade entre os profissionais mais jovens é alta. Para Anita Kon, professora de Economia do Trabalho da PUC de São Paulo, quanto mais os jovens adiam a busca desse conhecimento prático, mais o mercado de trabalho tende a sofrer. “As empresas querem profissionais com experiência e isso só é possível na prática. A qualificação também é adquirida no dia a dia e não apenas em sala de aula”, afirma.

 





Fonte: Gazeta do Povo
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