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Sem qualificação, jovem é instável no emprego

 A alta rotatividade e a instabilidade da ocupação contribuem mais para os elevados índices de desemprego entre jovens que a falta de vagas de trabalho. A constatação está em um estudo preliminar (Inserção dos jovens no emprego formal: uma abordagem de fluxos) apresentado nesta quarta-feira, 20, pelo diretor-adjunto de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Carlos Henrique Corseuil, durante o painel Juventude e Trabalho, promovido na 3ª Code.  A pesquisa utilizou dados da RAIS, do Ministério do Trabalho, para avaliar, entre outros fatores, o tipo de relação de trabalho dos jovens com as empresas e os motivos que levam ao desligamento/demissão.


Corseuil afirmou que o desemprego juvenil não deve ser entendido como uma falta de vagas de trabalho, pois o número de admissões é superior nesta faixa etária. Em compensação, a taxa de desligamentos também é consideravelmente maior que entre os adultos. O estudo descarta como causas deste fenômeno a existência de vínculos trabalhistas frágeis – como a contratação temporária – e a tendência, supostamente maior entre jovens, de abandono do emprego. “As diferenças entre o desligamento voluntário, apesar de ser maior na faixa de 14 a 24 anos, não parece ter magnitude suficiente para causar elevação no desemprego e na rotatividade”, comentou.

As análises indicam que boa parte da população entre 14 e 24 anos está em setores da economia com grande instabilidade, fato que, para o diretor do Instituto, pode ser provocado pela falta de qualificação. “Realmente existe, como base nos cálculos que fizemos, uma rotatividade causada por características da idade, mas um componente importante é o setor de ocupação, pouca experiência e qualificação parece empurrar o jovem para firmas de alta instabilidade”, argumentou.

Novo olhar

Para Marcelo Neri, presidente do Ipea, a pesquisa apresentada nesta quarta-feira tem o mérito de tentar entender a presença do jovem no mercado de trabalho por meio do estudo dos fluxos de admissão e desligamento e não apenas olhando as mediadas de estoque, como o nível de desemprego. Ele ressaltou ainda a relevância de identificar as razões que levam o trabalhador jovem a sair do emprego. “Este [Juventude] é um dos temas mais estimulantes e complexos, precisamos de novos olhares sobre essa faixa da população, pois é na juventude que tipicamente temos perdido as principais batalhas, na violência, na questão das drogas, etc.”, completou.

Anne Posthuma, da Organização Internacional do Trabalho, integrou a mesa de debates do painel. Ela destacou o grande contingente de jovens brasileiros que não estudam, não trabalham, nem estão em busca de emprego (“jovens nem nem”). De acordo com o Censo 2010, 5,3 milhões de brasileiros estão nesta situação. Eles representam uma proporção de população superior àquela encontrada na União Européia, que passa por um período de recessão econômica.

 
“Há um ciclo vicioso entre pobreza, desigualdade e baixa qualificação que impede os jovens de aproveitarem as oportunidades do bom momento vivido pelo mercado de trabalho. É preciso um marco de políticas públicas que atenda a necessidade da juventude, e pense tanto na oferta de qualificação como na criação de uma demanda em áreas com trabalho digno”, concluiu.

Fonte: Blog do Trabalho, 26 de março de 2013

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