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Paraná segue refém dos perigos do amianto

O amianto foi incluído no grupo principal de substâncias cancerígenas pela Organização Mundial da Saúde...



Em 2014, uma rede de lojas de materiais de construção, aqui de Cascavel, firmou um acordo judicial com o Ministério Público do Trabalho, garantindo que não mais comercializaria produtos com amianto. Isso aconteceu porque antes disso o MPT promoveu uma ação solicitando que a loja cessasse a venda de telhas de amianto (e qualquer outro produto com este material), diante do risco de câncer para os trabalhadores que as manipulam. Ocorre que o amianto foi incluído no grupo principal de substâncias cancerígenas pela Organização Mundial da Saúde. Segundo a organização, 125 milhões de pessoas estão expostas à substância em todo o mundo, e pelo menos 107 mil morrem anualmente de doenças associadas a ela.

Por esse motivo, o amianto já foi banido em mais de 60 países. No Brasil, os estados de São Paulo, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Pernambuco também proibiram o uso do amianto. No Paraná, Curitiba possui uma lei municipal, que entrou em vigor em dezembro de 2015, que proíbe a comercialização de produtos com este material na cidade. Entretanto, segundo Roberto Leal Americano, presidente do Sintrivel (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Cascavel e Região), é justamente em Curitiba que ficam as únicas três indústrias de artefatos de cimento do estado. São elas a Multilit, a Eternit e a Isdralit. Estas empresas são responsáveis pela fabricação no estado de telhas de amianto. E para o sindicato a maior preocupação quanto ao amianto está justamente nos trabalhadores destas indústrias, que durante a fabricação das telhas, têm contato direto com o material.

Infelizmente, o fato de Cascavel não ter indústrias que utilizam o amianto, não nos deixa livres dos perigos deste material. Roberto destaca que os trabalhadores da construção civil, manipulam diariamente telhas de amianto, o que também oferece riscos. “Existem algumas orientações, como a de não produzir poeira com estas telhas, durante o corte, por exemplo”, contou. Já o restante da população tem contato diário com estes materiais, já que as telhas de amianto, segundo Roberto, estão presentes em 70% das residências. Ele conta que há pouco tempo caixas d’água eram fabricadas com este material, mas que hoje este tipo de comercialização é proibida. Entretanto, lembra que muitas residências ainda utilizam caixas d’água em amianto, fazendo com que, através da água, pessoas consumam doses diárias de uma substância cancerígena.

Comercialização

Entramos em contato com a rede citada no início da matéria, e fomos informados que, de fato, eles não comercializam telhas de amianto desde dezembro do ano passado. Todavia, ao ligar novamente, não nos identificando como equipe de reportagem, recebemos a informação que eles vendiam sim este tipo de telha. E mais, que era a telha que mais era comercializada na loja. “Não faz mal, todo mundo usa essa. Não tem problema em usar a telha de amianto, porque ainda terá o forro. Então não terá contato com ela”, orientou a vendedora.

Já outra grande loja da cidade, afirmou comercializar telhas de amianto mesmo quando informamos que a informação seria utilizada em uma matéria jornalística. “Inclusive esses dias veio um cliente destacando que não queria telhas sem amianto, porque, segundo ele, elas parecem um papelão”, contou o vendedor.

O presidente do Sintrivel destacou que a maior dificuldade em convencer a população a deixar de utilizar estas telhas é o preço cobrado por elas. Para se ter ideia, em uma destas lojas enquanto a telha de amianto, de 4 mm, era vendida a R$11,90, a “telha ecológica” era comercializada a R$55,26. “Se você chega em uma loja e o vendedor apresenta as duas. Qual você levará para casa? Provavelmente a mais barata”, disse. Por isso Roberto ressalta que o amianto deve ser combatido nestas indústrias, já que, enquanto estes produtos chegarem às lojas serão consumidos pela população. Tentamos contato com o Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil Oeste do Paraná), para saber o posicionamento deles a respeito do tema, mas até o fechamento desta edição não conseguimos contato com o presidente, que estava em viagem.

Destinação

O problema é que a presença do amianto não cessa com sua substituição. Ou seja, mesmo que todas as famílias de Cascavel resolvam substituir o amianto pela telha ecológica o problema permanecerá. Isso porque, a descontaminação é muito difícil de ser feita devido ao alto custo e apenas em alguns casos é realizada, geralmente em indústrias. A resolução 348 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, de 2004, determina que produtos que têm o amianto como matéria-prima não podem ser descartados em qualquer local. A recomendação é de que o amianto seja descartado juntamente com resíduos perigosos em aterros especializados. Consultar a administração regional ou a prefeitura de sua cidade é uma ótima solução para efetuar o descarte consciente.

Entramos em contato com a Secretaria de Meio Ambiente solicitando informações com relação à destinação de amianto em Cascavel, mas até o fechamento desta reportagem não obtivemos respostas.

Observatório do Amianto

No mês passado oito instituições assinaram um termo de cooperação técnica com o MPRT-PR, dando origem ao Observatório do Amianto. O objetivo é agregar esforços para a realização de estudos epidemiológicos da população trabalhadora exposta ao amianto no processo produtivo; integrar, compartilhar e analisar bancos de dados sobre o tema; buscar e acompanhar ativamente casos de pessoas expostas; pesquisar a percepção de riscos ambientais da população acerca dos riscos à exposição ao amianto, bem como divulgar os riscos da exposição ao amianto; orientar e apoiar trabalhadores e familiares; além de tomar providências jurídicas e políticas pelo banimento.

No site do Observatório (www.observatoriodoamianto.com.br) e fanpage no Facebook (www.facebook.com/observatoriodoamianto) os cidadãos podem obter informações por meio de conteúdo multimídia, mapas interativos, vídeos, fazer denúncias e reportar se trabalharam ou estiveram expostos ao mineral. 


Fonte: CGN, 15 de junho de 2016



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