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A Lava Jato e a crise na economia

JAMES AKEL

 

Quando começou a Lava Jato, tive uma preocupação: o reflexo que teria na economia do país. Comentei com amigos da área econômica e da publicidade que o aprofundamento das investigações poderia produzir consequências sobre a atividade econômica.

Naquela época, minha apreensão virou piada diante da avaliação que se fazia em áreas do empresariado sobre o trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

Minha tese relembrava a mega investigação contra a Daslu, luxuosa loja feminina do Brasil. O cerco ocorreu em 2004, com a implantação de um método que sobrevive até hoje: prende-se primeiro para depois interrogar.

Dezenas de policiais armados invadiram a Daslu para prender uma senhora com saúde precária que enfrentava dificuldades financeiras para manter a loja aberta.

Não me confundam, por favor, como defensor de ilicitudes. Se a dona da Daslu cometeu algum delito, era dever da Polícia Federal investigar. Poderiam ter optado por chamá-la para depor, indiciá-la com base nas provas recolhidas e julgá-la.

Imaginem se houvesse uma mega operação contra todas as casas de luxo. Duas consequências claras -o afastamento da clientela e o fim de diversos empregos.

Pois imaginei a Lava Jato devorando todas as empreiteiras, de uma só vez. Fiz então uma pesquisa pessoal, em 2014. Cheguei a um número assustador: 20 milhões de desempregados. Minha projeção de anos atrás coincidiu com a realidade do mercado hoje, em que o número verdadeiro de desempregados é superior a 20 milhões.

Numa pesquisa recente do jornal "O Globo", a cada cinco famílias entrevistadas no Rio, uma não tinha ninguém empregado.

Jamais seria contra as investigações. Estou apenas mostrando os reflexos da operação no setor empresarial da construção, o maior mercado de trabalho do Brasil. Isso gerou um enorme desemprego.

Some-se ao fato a pouca habilidade da ex-presidente Dilma Rousseff, que não se assessorou de gente criativa e bradava que de nada sabia, e temos o cenário nebuloso em que hoje estamos.

É mérito da Lava Jato desnudar a bandalheira de políticos e empreiteiras, seja lá qual fosse o governo. Não há santos. Todavia, o trabalhador perdeu seu emprego.

Pegando todo o empresariado de uma vez, criou-se a sinuca: empresários não tinham como continuar as obras; governo dizia que não pagava por causa das investigações.
A economia do país parou.

Imaginem um poço de água suja no meio do sertão. O povo vai até lá bebê-la, pois é a única que há. Aparece então alguém e diz que o poço de água suja precisa ser fechado. O povo morre de sede.

JAMES AKEL, ex-conselheiro da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), é jornalista e consultor de marketing

Fonte: Folha de S.Paulo, 15 de novembro de 2016.


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