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Eleição americana deu a liderança do Ocidente à alemã Angela Merkel

 

  Axel Schmidt/REUTERS  
Vitória de Trump nos EUA deu a liderança do Ocidente à alemã Angela Merkel
Vitória de Trump nos EUA deu a liderança do Ocidente à alemã Angela Merkel
 
 

Como previsto, a eleição americana da última terça-feira deu a liderança do Ocidente a uma mulher. Mas, ao invés de Hillary Clinton, a escolhida foi Angela Merkel.

Aparentemente, os homens brancos americanos acharam que, além de lidar com a crise do Euro, o drama dos refugiados e os malucos do Brexit, Frau Merkel poderia emendar uma quarta jornada de trabalho trocando as fraldas de Donald Trump. Ficam aqui nossos votos de boa sorte à chanceler alemã, em que pesem nossas discordâncias.

Após a vitória de Trump, Merkel declarou que estava disposta a cooperar com o novo governo americano, desde que partindo de certos valores, como "a democracia, a liberdade e o respeito pela lei e pela dignidade do homem, independente de origem, cor da pele, religião, gênero, orientação sexual ou preferências políticas". Pois é, também não acho que vai ter isso.

Agora é com os founding fathers. O mundo espera que as instituições americanas sejam fortes e bem desenhadas o suficiente para manter sob controle um charlatão narcisista como Trump, o pior candidato ao que quer que seja em qualquer lugar do mundo nos últimos anos, um sujeito que deveria estar naquelas montagens "o pior do horário eleitoral brasileiro", não na Casa Branca. Mas tentando contê-lo estão os sujeitos que, mais de duzentos anos atrás, bolaram as regras do jogo: e o bonde da Convenção da Filadélfia nunca está para brincadeira.

Além da qualidade das instituições americanas, o outro motivo de esperança diante de um mandato de Donald Trump é seu caráter, e a expectativa de que ele seja tão ruim quanto as instituições americanas são boas. Se Trump se comportar diante de seus eleitores como se comportou diante dos alunos da Trump University que o processam por fraude, podemos ter esperanças de que, no fim das contas, traia suas promessas de campanha e faça um governo mais ou menos como os outros.

Mas, além de picareta, Trump é um narcisista. É evidente que deriva imenso prazer do aplauso dos fanáticos que o apoiam. Entre ser sobriamente elogiado pelos moderados por fazer um bom governo ou ser exaltado como herói pela direita radical, que escolha um narcisista faria?

Além disso, meio trumpismo já pode causar um senhor estrago. Trump prometeu abandonar os aliados da Otan, começar uma guerra comercial com a China e passar o México para trás no Nafta. Se essas promessas forem cumpridas pela metade já será bem ruim.

E ainda que Trump faça um governo moderado, a lição foi aprendida: é possível se eleger presidente dos Estados Unidos sendo abertamente racista. A extrema-direita americana está mais animada do que nunca. A Ku Klux Khan fará uma marcha da vitória. Os nazistas na Suécia já fizeram. Le Pen, Farage e Bolsonaro manifestaram satisfação com a vitória de Trump. Quem vai puxar a coleira desses sujeitos? A globalização só fala alto com o Syriza?

Enfim, dependendo do resultado das próximas eleições francesas, o Conselho de Segurança da ONU pode ter Trump, Putin, Le Pen, Theresa "Brexit" May e o Partido Comunista Chinês. Este último, aliás, restará como o defensor remanescente do livre-comércio, mas não oferece uma visão inspiradora como a democracia moderna. Se a questão dos refugiados derrubar Merkel, a globalização não terá mais centro digno do nome. 

Fonte: Folha de S.Paulo, 15 de novembro de 2016.

 

 

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