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Único lugar em que a economia vai bem é no discurso de Temer

 

 


“A frustrada recuperação da economia neste segundo semestre continua afetando a arrecadação de impostos do governo federal, o que pressiona ainda mais as já combalidas finanças públicas”, diz o texto da Folha de S. Paulo, reforçando o alerta de diversos economistas, que consideram não as despesas, mas as receitas as responsáveis pelo problema fiscal brasileiro. Nesse sentido, o remédio proposto por Temer - o corte de gastos - ataca a parte errada da planilha orçamentária.  

Um estudo dos economistas José Roberto Afonso e Vilma da Conceição Pinto, da FGV, aponta que a arrecadação continua a cair e contraria os discursos de que o país estaria perto de sair da recessão. Os dados de setembro são menos ruins que os de agosto - quando houve recuo de 10% na arrecadação -, mas estão longe de afastar o Brasil da crise.

"Em agosto, ainda havia dúvida se o resultado decorria de efeitos da greve dos fiscais, como no caso das importações. Esse efeito não cola mais. Mesmo comparando com uma base já muito ruim [setembro de 2015], os decréscimos seguem muito fortes e até acelerando, como no caso da Cofins", disse Afonso à Folha. Cofins é uma contribuição que incide sobretudo sobre as vendas do comércio e dos serviços, que, em razão da queda do crédito e no emprego, devem demorar a se recuperar. 

Segundo o IBGE, há 22,7 milhões de pessoas que estão sem empregos ou buscam melhores condições de trabalho. Este número inclui 11,6 milhões de desocupados, 4,8 milhões de subocupados e 6,2 milhões que compõem a força de trabalho potencial, que engloba o desalento - aqueles que já desistiram de procurar emprego. 

Além disso, a produção industrial registrou um recuo de 3,8% no mês de agosto ante julho. E, em setembro, o Índice de Gerentes de Compras, que tenta antecipar os resultados do setor com base em informações como ritmo de novas encomendas, contratações e estoques, mostrou que a indústria brasileira teve o pior desempenho entre 28 países pesquisados. Isso tem impacto especialmente na queda da arrecadação de tributos como IPI, PIS e Cofins, mas não só.

O Produto Interno Bruto do segundo trimestre também veio pior do que se imaginava. Caiu 0,6% no em relação ao primeiro trimestre. Na comparação com o igual período de 2015, o recuo foi de 3,8%. Trata-se da pior sequência de quedas dos últimos 20 anos. Somam-se a isso os resultados ruins do comércio e dos indicadores de crédito. 

Um texto publicado no jornal O Globo informa que o Natal deste ano deverá registrar o menor número de empregados temporários desde 2006. A causa da retração é a falta de confiança na demanda, diz o periódico. "Uma outra pesquisa sobre contratação de temporários feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), comprova: três em cada dez empresários (31,4%) acreditam que as vendas serão piores do que no ano passado".

É difícil imaginar de onde o governo Temer tira a ideia de que a retomada está no horizonte. “Já começamos a colher os frutos", disse o presidente aos colegas do Brics. Devia estar se referindo a esses frutos amargos – desemprego, baixa arrecadação, desindustrialização –, que abundam diante da inação de um governo até então focado no ajuste fiscal seletivo. 

A insistência no corte de despesas parte de um diagnóstico equivocado - o de que o Estado arrecada muito e gasta descontrolademente - e só tem servido para acentuar a recessão. 

No Valor Econômico, uma reportagem dá conta de que instituições financeiras relevantes começam a prever a volta do crescimento apenas no primeiro trimestre do ano que vem e não mais no fim de 2016. 

"Os dados correntes frustram bastante e colocam em dúvida a intensidade da recuperação cíclica que a economia deve passar no ano que vem", disse, na matéria, o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e pesquisador do Ipea, Manoel Pires.

O ex-diretor do Banco Central e diretor do departamento econômico da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas, afirmou, ao Valor, que é preocupante o descompasso entre os dados correntes e as expectativas. 

“As variáveis de curto prazo continuam piorando. Se não houver melhoria nos dados correntes, o risco é de frustração e mais tempo para a retomada do crescimento”, disse. Para ele, “falta uma política para incentivar o setor real da economia”. 

Pelo visto, a retórica de que a “volta da confiança” é a panaceia está em xeque e, com o passar do tempo, vai ficando mais difícil colocar a culpa do mau desempenho da economia no governo Dilma Rousseff. 




Fonte: Vermelho, 18 de outubro de 2016



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