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Vargas Neto analisa eleições

As eleições municipais fortaleceram o privatismo, o fiscalismo e o conservadorismo. O movimento sindical teve participação secundária e muitos dos candidatos do meio tiveram desempenho pífio. Destaca-se, também, o número alto de abstenções, brancos e nulos.

A Agência Sindical gravou vídeo com o consultor sindical João Guilherme Vargas Neto, que aponta os desafios para o sindicalismo. Diz Vargas Neto: “O horizonte de recuperação do movimento sindical e das forças de esquerda não é 2018. Nosso desafio e a nossa capacidade serão testados na resistência agora a esse pacote previsto de medidas, como a PEC 241, a reforma da Previdência e as privatizações.


Principais trechos


Meio milhão de candidatos

“As eleições municipais são um fenômeno de massa pela quantidade de eleitores, número de municípios e número de candidatos. É meio milhão de candidatos. E, levando em conta o número de cabos eleitorais, é uma multidão de brasileiros que, antes mesmo do voto ir pra urna, fazem as eleições acontecer. O fenômeno é municipal; portanto ele é, exceto em algumas grandes cidades, muito disperso, como a própria realidade brasileira, um País imenso, população distribuída por muitas cidades.

Agora, levando em conta o resultado de São Paulo, que obviamente não pode ser deixado de lado, ele dá o tom do resultado. Eu vejo duas tendências muito preocupantes, mais até que os resultados. A primeira, que me preocupa, foi o alheamento do eleitor – abster, votar branco ou votar nulo. Em várias grandes cidades o fenômeno teve uma magnitude, um tamanho tal que venceu o primeiro colocado, como aqui na capital de São Paulo. Esse alheamento é uma tendência negativa porque eu não vejo a hora de os adversários escondidos da democracia avançarem da ideia de que o povo não sabe votar, para a ideia de que o povo não quer votar. Dirão: essa massa de alheamento é um sinal claro que o voto não tem que ser obrigatório, o voto tem que ser facultativo, porque o povo não quer voltar. Essa tendência é muito ruim, porque perturba a democracia. A outra tendência que aflorou, e é basicamente levando em conta o peso de São Paulo, principalmente o peso de uma vitória em primeiro turno, é o endosso à pior pauta hoje existente na sociedade.”


Privatismo, fiscalismo, endeusamento do gestor

“Venceu a pauta fiscalista, privatista, gestionária, controle de gastos e sobretudo o endeusamento do gestor, não o gestor público, mas o gestor privado. Isso reforça o campo de força – que hoje tem a presidência e a hegemonia do País – na pior das direções. Obviamente, a pauta vitoriosa em São Paulo, com o aval de votos da imensa maioria da população, em todos os seguimentos, classes, bairros etc, é uma pauta da reforma da Previdência, da pressão contra direitos trabalhistas, da PEC 241, do controle de gastos. Então, eu analiso essas tendências e fico mais preocupado ainda, porque elas ao invés de se contrariarem, se reforçam, reforçam a pauta regressista.”


Posicionamento do momento sindical

“Bem, a tendência ao movimento sindical sair-se mal nas eleições não é característica dessas eleições. Ela vem se desenvolvendo em outras eleições municipais e mesmo nas eleições gerais. O sindicalismo é um subsistema que não se dá bem, não se reconhece, não tem grandes possibilidades, levando-se em conta as regras eleitorais vigentes. No entanto, afirmou-se uma pauta antissindical e antitrabalhista. E o movimento vai ter que conviver com essa correlação desfavorável de forças. E o próprio fato da pauta vitoriosa na eleição municipal a partir de São Paulo ser uma pauta regressista, me preocupa porque isso reforça ideias de que a reforma da Previdência é urgente, necessária e precisa ser feita, e isso pode abrir tentação entre componentes do movimento para uma ideia de negociar com a tranca da porta quebrada. Eu vejo com preocupação os efeitos daquelas duas tendências projetadas em termos do próprio movimento sindical.”


Fatos sindicais de categorias, unitários e o congresso da IndustriALL

“Eles não são uma reação à nova conjuntura, até mesmo porque os três exemplos citados já estavam programados. Têm uma naturalidade no cronograma, elas mostram a vivacidade do movimento. Os atos contra a PEC 241 estão tendo uma molecularidade muito grande, com manifestações, paralisações, reuniões e passeatas praticamente no Brasil inteiro. É como se tivesse pipocando. Porém, essa resistência, já coloca dificuldades. Por exemplo, o governo recuou daquela visão mão magra e agora diz que Saúde não terá o corte esse ano, Educação não terá o corte esse ano. O que mostra as dificuldades que essa pauta de restrição, de cortes de gastos enfrenta no Congresso. O movimento, ao se manifestar contra essa pauta, engrossa as possibilidades de resistência.”


Resistência, posição e sobrevivência da esquerda

“Houve um filósofo francês chamado Alan, nos anos 30, que diz o seguinte: ‘Quem fala que direita e esquerda acabaram é de direita’. Então esse discurso que a esquerda acaba não tem mais sentido – ou acaba porque é derrotada – faz parte da trajetória da luta. Imagina essa mesma pergunta feita em abril de 1964 com o golpe vitorioso com apoio de massa, a esquerda perseguida etc. Agora, nós temos de analisar o quadro. Vamos supor: o eleitorado é um recipiente e esse recipiente é composto de vários, como um submarino, várias câmaras, que são os partidos que têm uma certa proporção. O fenômeno forte nessas eleições foi a derrocada do PT. Dois problemas, então: a derrocada do PT não transferiu o conteúdo para os partidos de esquerda em geral, exceto o PSOL. Em geral, a água que saiu do reservatório petista não foi também para o PSDB; ela fluiu para o conjunto amplo de partidos que disputaram as eleições. 

De tal forma que vejo duas coisas: primeiro, exceto a derrota forte do PT, que era obviamente o estruturante do campo de esquerda, o campo de esquerda se mantém, se mantém com possibilidades, capacidade de ampliação e sobretudo com capacidade de resistência. Por outro lado, a frente que hoje se aglutina em torno do governo Temer ficou mais horizontal, abrange mais setores e mais interesses. O que mostra de um lado vantagem para o governo, mas do outro lado, também, abre problemas, que são as divergências, as contradições, os temas que são levados para a sociedade. Eu acredito que o horizonte de recuperação do movimento sindical e das forças de esquerda não é 2018. Nosso desafio e nossa capacidade serão testados na resistência agora ao pacote previsto de medidas, como PEC 241, reforma da Previdência, privatizações etc.”

 


   


Fonte: Agência Sindical, 14 de outubro de 2016



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