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Programa agrada, mas ainda gera dúvidas no mercado

O discurso do governo sobre seu apoio aos investimentos em infraestrutura mudou e está mais palatável ao mercado, mas ainda pairam no ar dúvidas quanto à execução do plano apresentado, especialmente tendo em vista o curto prazo de mandato de Michel Temer. “Uma coisa é anunciar, agora precisa tirar do papel e conseguir licitar de maneira que atraia a iniciativa privada e que gere os empregos que o governo espera”, disse o sócio da área de Infraestrutura do escritório Machado Meyer, Mauro Penteado.


Para ele, a Programa de Parceria de Investimentos (PPI) tem um voto de confiança e o “benefício da dúvida”, mas a secretaria precisará entregar o que está se propondo a fazer. “A modelagem precisa ter apelo para a iniciativa privada e eles precisam descobrir esse caminho em pouco tempo”, disse, referindo-se ao fato de que o governo durará apenas dois anos.


Penteado salientou a necessidade de que sejam apresentadas projeções mais realistas, projetos mais racionais e aprofundados, com estimativas de demanda mais próximas da realidade e retorno adequado para o capital privado. E salientou em especial o desafio de criar um modelo atrativo para os projetos ferroviários. “Desde 2012, sempre se patinou na execução das concessões de infraestrutura, nunca se conseguiu criar uma modelagem que atraia o investidor”, lembrou.


Para o economista Gesner Oliveira, sócio da consultoria GO Associados, o novo cronograma de concessões é ambicioso, mas não parece impossível. “Do ponto de vista de princípios e diretrizes, o programa parece muito bom”, disse. “O discurso feito pelo Moreira Franco (secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos) soa como música aos ouvidos dos investidores”. Segundo Oliveira, a vantagem do PPI é seu formato de conselho, que tem no comando o presidente da República. Isso sugere que as decisões sejam mais rápidas. Ele lembra ainda que órgãos de controle, como o TCU e autoridades ambientais, estarão mais próximos do projeto, fazendo com que as etapas sejam paralelas, e não sequenciais.


O sócio-fundador do Souza, Cescon, Barrieu & Flesch, Luis Souza, também está otimista com o PPI. “O grande mérito foi criar uma instância única onde agentes administrativos podem conversar com agentes financeiros sob a batuta das políticas públicas de longo prazo e/ou emergenciais que sejam definidas.”


Souza acredita que o segmento de logística tem o maior potencial de movimentar rapidamente os investimentos em infraestrutura e trazer resultados para a economia e para o emprego. Segundo ele, especialmente em rodovias, existe uma demanda reprimida, com valor agregado importante e potencial de implementação rápido em comparação a outros projetos que podem envolver obras com exigência ambiental e estruturas mais caras.



Juros


Na avaliação do economista Fabio Silveira, sócio e diretor da MacroSector, o PPI ainda esbarra nos juros altos, cuja taxa básica está em 14,25% ao ano, e na falta de um ajuste fiscal no País. Para Silveira, a Selic de dois dígitos, além de incentivar a migração de recurso para o mercado financeiro, prejudica o financiamento de possíveis investimentos no setor de infraestrutura.


“Por isso, seria importante que o BNDES participasse com maior efetividade, pois é a única instituição capaz de entrar com juros estimulantes ao investimento”, disse Silveira. “O Banco do Brasil, por exemplo, pode até cobrar juros mais baixos, mas nunca chegará aos do BNDES.”


O sócio da MacroSector avaliou ainda que o ajuste fiscal necessário para reduzir o rombo nas contas públicas abriria também caminho para que o próprio governo bancasse algumas obras e incentivasse o investimento do setor privado.




Fonte: Tribuna do Paraná / Estadão Conteúdo, 14 de setembro de 2016.

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