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Em 2018, eleição no Brasil como na Argentina? Ou não!

Nenhuma eleição se ganha ou se perde por um só motivo. Até há um ou alguns fatores que se sobressaem na vitória ou na derrota, mas é o conjunto que pesa. Estudar e analisar o que levou ao resultado de uma eleição é uma tarefa importante para os que pretendem disputar o próximo pleito. Assim aumentam as chances de evitar erros e repetir acertos.

Isso vale mesmo quando a eleição é em outro país, em realidades e circunstâncias diferentes das nossas. Sabendo respeitar e compreender essas diferenças, a avaliação dos resultados na Argentina pode ser bastante útil tanto para os governistas quanto para os oposicionistas brasileiros.

O que aconteceu na Argentina, em poucas palavras, é que o candidato do governo, de centro-esquerda, perdeu a eleição, em segundo turno, para o candidato da oposição, de centro-direita. A diferença foi de apenas 2,8% -- 51,4% a 48,6%. Ou seja, o resultado poderia ter sido o inverso, com vitória apertada do candidato governista. Nas especulações do “se”, que nunca se comprovarão, se diz que se Cristina Kirchner fosse a candidata, teria derrotado Maurício Macri. Pode até ser, mas o candidato era Daniel Scioli.

Há muito o que entender no processo eleitoral argentino e muito o que adaptar para a realidade brasileira. Há semelhanças e diferenças. O que não se pode é cair no superficialismo e no simplismo de análises do tipo “o comunismo foi derrotado” (pela direita) ou “Macri vai anular todas as conquistas sociais do peronismo” (pela esquerda). No primeiro caso, porque nem o peronismo, nem Cristina e menos Scioli tem qualquer simpatia pelo comunismo e os governos Kirchner nada tiveram de comunistas. No segundo caso, porque Macri não tem nem força social, nem força parlamentar, para fazer o que quiser no país. O peronismo é forte, a votação foi apertada e ele não tem maioria na Câmara e no Senado.

São apenas exemplos das análises apressadas que são feitas, movidas mais pelo sentimento ideológico do que pela realidade. É preciso entender que a maioria dos argentinos está descontente com o governo, por diversos motivos, e via em Scioli poucas perspectivas de melhorar a situação econômica do país. Parte dessa maioria descontente, porém, votou no candidato peronista temendo que a vitória de Macri pudesse significar a perda de benefícios sociais. Daí a margem estreita de votos que separou os dois candidatos.

Há muito mais a entender: a fragilidade da esquerda socialista na Argentina e o voto nulo da extrema-esquerda; as divisões no peronismo, que vão da direita à esquerda; a falta de identificação entre Cristina e Scioli; o desgaste de personalidades governistas, que se refletiu nas eleições provinciais (especialmente na importante província de Buenos Aires); a personalidade meio outsider da política que Macri passou; a falta de transparência e a sobra de corrupção no governo; a boa administração de Buenos Aires nas gestões de Macri; a forte pressão de meios de comunicação a favor de Macri, e muito mais.

Macri certamente executará uma política econômica diferente da implementada por Cristina, mas talvez não muito diferente da que executaria Scioli. A grande diferença, a mais significativa, será na política externa. Macri não tem simpatias pela chamada “esquerda bolivariana” e tende a se aproximar mais dos Estados Unidos.

A eleição na Argentina não significa que em 2018 é inevitável a vitória da centro-direita no Brasil. Até porque aqui não apareceu alguém parecido com Macri, e é bobagem compará-lo com Aécio Neves. Mas a centro-esquerda, se não quiser ser derrotada aqui também, tem muito a aprender com os erros do governo de Cristina Kirchner. Que, na verdade, não são muito diferentes dos erros que o governo de Dilma Rousseff vem cometendo.


Fonte: Brasil247, 25 de novembro de 2015



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