Muito se fala nos reflexos de inflação e queda do poder de compra no perfil do mercado de trabalho, especialmente aos jovens que passariam a buscar mais inclusão por conta de perdas na renda familiar. O fenômeno geraria, segundo alguns, aumento das taxas de desemprego na população economicamente ativa, já que boa parte do segmento que apenas estuda passaria a buscar emprego em cenário desfavorável.
Mas limitar a análise ao universo dos que são exclusivamente estudantes é subestimar o potencial de impacto da economia e, em particular, de eventuais mudanças na lei de terceirização sobre a maioria do segmento —o conjunto de jovens que já trabalham.
Segundo a última pesquisa nacional do Datafolha, a grande maioria dos brasileiros de 16 a 24 anos faz parte da população economicamente ativa e a maior parte (31%) é de assalariados com registro em carteira. O mercado informal (sem registro ou free-lance), que há 19 anos caracterizava o estrato, totaliza hoje 21%, e a taxa dos que só estudam é de 25%. Estão buscando um emprego 8%.
Entre os jovens de 1996, a situação era inversa: 22% tinham registro em carteira e 32% estavam no mercado informal. Nos anos seguintes, a situação piorou e a informalidade somada à busca por uma vaga atormentou a realidade da maior parte dos jovens de 2003. Na ocasião, o desemprego cresceu acima da média no estrato e chegou a 14%.
O grau de escolaridade do segmento aumentou significativamente a partir do final da década de 1990. Há 19 anos, a maioria tinha apenas o ensino fundamental e a taxa de nível superior era de apenas 5%. Hoje, 65% têm o nível médio e 22% cursam ou cursaram uma faculdade.
Nos últimos 12 anos, os jovens apresentam inclusão na população economicamente ativa acima da média, em particular no mercado formal. Após 2002, o crescimento de participação de assalariados registrados na população subiu 9 pontos percentuais, enquanto entre os mais jovens, essa taxa foi de 14 pontos.
Por talvez ter conhecido só essa realidade, o estrato se apresenta um pouco menos pessimista do que as outras faixas etárias quanto ao aumento do desemprego e sobre a queda no poder de compra.
Por outro lado, predominante nas jornadas de junho de 2013, esse é o segmento mais apartidário e favorável aos protestos antigoverno e o que mais pede o impeachment de Dilma, apesar de quase 1/3 não ter votado em 2014 e de 35% avaliá-la como regular.
Mesmo que crianças e adolescentes na maior parte das gestões petistas, é o grupo que mais cita Lula como o melhor presidente da história e o que mais vê a educação como principal problema do país.
Cortes em políticas da educação, mudanças na lei de terceirização e a diminuição da maioridade penal, a depender dos formatos adotados, têm um potencial muito maior de frustrar esse segmento do que qualquer outro.
Se a meta é, de fato, gerar maior inclusão e diminuir a violência, deve-se atentar também à ameaça de se armar uma bomba relógio demográfica, capaz de recrudescer o que se diz combater, agravando ainda mais a crise de representação.
Fonte: Folha de S.Paulo, 20 de abril de 2015