Conhecer Nova York em 2016 é o sonho. Juntar dinheiro, o desafio da estudante Amanda Tinoco de Mesquita. Aos 24 anos e perto de concluir o curso de História da UFRJ, ela trabalha como professora de inglês e arca com as despesas do dia a dia, mas ainda não tem qualquer investimento, nem mesmo uma caderneta de poupança.
— Não tenho noção de como funcionam e tenho medo. Guardo o dinheiro no colchão. Sempre ligam do banco oferecendo plano de capitalização e de previdência, mas não falam dos custos — reclama a jovem, que pensa em se aposentar aos 60 anos, como funcionária pública, para curtir a vida.
A situação da moça é representativa da chamada geração Y — nascidos após 1980 e até meados dos anos 90 —, cujo comportamento financeiro foi alvo de pesquisa da Saïd Business School, da Universidade de Oxford, por encomenda do BNY Mellon, junto a 1.178 jovens de Austrália, China, Japão, Holanda, Reino Unido, EUA e Brasil. Acostumada às facilidades da tecnologia e do acesso ao crédito, embalada pela internet e acalentada por pais superzelosos, a moçada tropeça ao lidar com dinheiro e relacionar desejos e esforços.
O estudo identifica resistências globais a poupar numa geração que deve viver mais que os pais e, portanto, deveria acumular patrimônio maior para se aposentar. Quase metade (42%) dos entrevistados preferiria receber US$ 50 hoje a US$ 80 em um ano (36%) ou US$ 200 em dez anos (22%).
Mas alguns dados põem o Brasil em evidência. Os jovens daqui estão entre os mais apressadinhos no plano para se aposentar: esperam parar de trabalhar aos 61,4 anos. Mais otimistas, só os chineses, que pensam em pendurar as chuteiras aos 59,3. A média na enquete é de 63,8 anos.
Além disso, 72% dos brasileiros dizem confiar nas instituições financeiras para lhes proporcionar uma aposentadoria segura, contra a média de 65%. Do total de entrevistados no país, no entanto, 62,9% no país dizem não saber como funciona a previdência privada, contra 48,9% da média. O mais curioso, contudo, é o fato de que, embora pensem em deixar de trabalhar relativamente cedo, os jovens brasileiros não estão poupando: 58% das moças e 53% dos rapazes não guardam dinheiro. Indagados se estariam mais propensos a economizar para a aposentadoria se os recursos não ficassem engessados, metade (51%) dos entrevistados disse “sim”. No Brasil, contudo, o índice foi maior (67%).
— A capacidade de poupar vem da capacidade de controlar o gasto. É difícil para uma geração que se realiza pelo consumo — diz Aquiles Mosca, superintendente executivo do Santander Asset Management e presidente do Comitê de Educação de Investidores da Anbima, que reúne as entidades do mercado financeiro. — A geração Y quer respostas rápidas e satisfação imediata.
No Brasil, essas características são inflamadas pelo avanço do crédito, avalia o planejador financeiro Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro.
— Os jovens acham que é status. Que estão bem porque têm cartão de crédito ou cheque especial. Acabam perdendo dinheiro pela vaidade. — diz. — Há uma dificuldade para planejar as conquistas. É preciso colocar objetivos de consumo e de conquista. O clique vem na ambição de ter coisas melhores.
A pesquisa da Saïd Business School mostrou que, para 52% dos entrevistados, os pais são a principal fonte de informação sobre produtos e serviços financeiros. A exceção é a Holanda, onde a maioria busca consultores especializados, e o Brasil, onde os jovens tendem a se voltar ao banco. Os pesquisadores avaliam que isso pode ser explicado pela baixa penetração da previdência privada no país. Para Amanda, há outro motivo. Falta um diálogo sobre dinheiro e planejamento com os pais:
— Organização financeira e investimentos nunca foram temas muito presentes em casa.
Há ainda a tendência dos pais a cederem a todos os desejos da prole. Autora do recém-lançado livro “Como falar de dinheiro com seu filho”, a educadora Cássia D’Aquino Filocre recomenda aos pais que não sabem como abordar o assunto ou impor limites que se perguntem que tipo de adulto querem que seu filho se torne.
— Ele precisa aprender a lidar com frustrações — frisa.
FONTE: O Globo, 13 de outubro de 2014
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