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Vizinhos crescem o dobro de Curitiba

IBGE mostra que somente de 2013 para 2014 o avanço populacional foi de 1,68% na região metropolitana, ante 0,83% na capital

 

 

Nos últimos dez anos, a média da taxa de crescimento populacional entre os municípios da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) foi duas vezes maior do que a da capital, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São José dos Pinhais ganhou perto de 50 mil novos moradores nesse período. Entre os 29 municípios que compõe a RMC, apenas Doutor Ulysses apresentou uma queda alta no número de habitantes.

 

 

Dinâmica

RMC duplica número de municípios desde a criação

A Região Metropolitana de Curitiba foi institucionalizada em 1973, composta de 14 municípios. Em 2000, a RMC ganhou mais 12 graças a desmembramentos de municípios. Hoje, são 29. No artigo “Dinâmicas intrametropolitanas e produção do espaço na Região Metropolitana de Curitiba”, as pesquisadoras Rosa Moura e Olga Firkowski, ambas do Observatório das Metrópoles, contam que o desenvolvimento da RMC se deve a três motivos.

O primeiro é a “intervenção urbanística e o controle da administração municipal associados ao planejamento urbano de Curitiba”; o segundo é a legislação flexível dos municípios, o que fez a oferta de terra crescer; e o terceiro é o “sistema de transporte coletivo, que sustenta a ligação do polo com o entorno imediato, cortando a cidade”.

Em artigo publicado em maio deste ano, Rosa e Olga também apresentam outras considerações sobre o crescimento da RMC, como elevação dos níveis de escolaridade, empoderamento da mulher e a modernização dos hábitos e identidades. “Tudo isso gera uma mudança grande e atrai a população”, diz Rosa.

Crescimento

Perto da capital, Tunas do Paraná viu população dobrar em uma década

O município de Tunas do Paraná, a 76 quilômetros de Curitiba, viu sua população quase dobrar em 10 anos. Embora o número não seja alto – os moradores passaram de 3,9 mil para 7,3 mil --, ele reforça a tendência de que as pessoas estão em busca de trabalho e melhor qualidade de vida, o que pode estar logo ao lado, num município vizinho.

Pelo menos três grandes empresas do ramo de extração de madeira se instalaram na região de Tunas do Paraná entre 2004 e 2014. “Além de ter emprego, aqui também tem custo de vida baixo, é próximo da Curitiba (de carro, é possível fazer o percurso em uma hora e 20 minutos) e o metro quadrado das residências é bem mais barato em comparação ao da capital”, conta a secretária de Finanças do município, Jocélia Franco Bonfim.

 

De acordo com o IBGE, há cerca de 3,5 milhões de habitantes na RMC. A taxa de crescimento de 2013 para 2014 foi de 1,68% na região, ante 0,83% de Curitiba. Para Marisa Valle Magalhães, pesquisadora do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes), o que está ocorrendo na capital paranaense e em todo o país é conhecido como “periferização”, ou fragmentação da cidade.

 

 

“Esse processo, visto desde a década de 1970, é apenas o núcleo (Curitiba) crescendo menos do que o entorno. Isso porque o solo da capital está mais caro e há consequente aumento de custos. A pessoa que vai para a RMC pode estar em busca de terrenos maiores e mais baratos, melhor qualidade de vida ou procura ficar mais perto do lugar em que trabalha.”

 

 

Entre 2005 e 2010, segundo o Ipardes, houve 31 mil ocorrências de trocas migratórias entre os municípios da RMC. As regiões que mais receberam pessoas foram São José dos Pinhais, Colombo, Almirante Tamandaré e Araucária. Esses locais também atraíram moradores de outros estados, principalmente os das regiões Sudeste e Sul.

 

Para Tirza Aidar, pesquisadora no Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o desenvolvimento econômico é ainda o principal chamariz de novos imigrantes. “Há uma tendência histórica de que as cidades da RMC estão se desenvolvendo economicamente. Isso é um dos principais fatores que atraem processos migratórios.”

 

 

De Curitiba para SJP

 

Foi justamente a economia que fez Isabel Volpatto, de 42 anos, sair de Curitiba em 2004 e se mudar para São José dos Pinhais. “Eu tinha que deixar todo dia a capital, pegar ônibus e ir para o emprego. Não estava compensando. Então resolvi me mudar”, conta. Pouco tempo depois, ela abriu seu próprio negócio, para vender vestidos de festa. “Fui abrindo meu espaço. Descobri aqui um povo mais acolhedor do que o da capital.”

 

 

São José dos Pinhais, por exemplo, viu seu processo de industrialização começar na década de 1990 com a chegada das montadoras. O município, junto com os outros da RMC, é responsável no Paraná por 44% do valor adicionado fiscal (o VAF, quantia apurada da movimentação de mercadorias e produtos) e concentra 42,8% dos empregos formais do estado, segundo dados do Ipardes referentes a 2010 e 2011.

 

 

Hoje, São José dos Pinhais, com pouco mais de 290 mil habitantes, também tem grandes centros comerciais espalhados pelo centro e pelas regiões mais afastadas, como a Rua Canoinhas, na região da Borda do Campo.

 

 

Isolamento faz Doutor Ulysses perder morador

 

Doutor Ulysses, a 130 quilômetros de Curitiba, tinha 6,5 mil moradores em 2004, segundo o IBGE. Em uma década, 10% deles deixaram a cidade. Para o controlador geral do município, José Paulo Bitencourt, o êxodo decorre da falta de emprego e do isolamento. “Não conseguimos atrair indústrias. O único meio de emprego aqui é trabalhar na área rural ou entrar para a prefeitura.”

 

 

As três estradas que ligam Doutor Ulysses a Curitiba e aos municípios vizinhos são de terra batida, o que dificulta o acesso e o escoamento de produtos. A prefeitura negocia com o governo estadual a implantação do asfalto.

 

 

Fundado em 1993, o município tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) do Paraná (0,546). Além disso, fica no lugar 5.251 entre os 5.565 municípios do país.

 

 

Na região, há menos de 10 escolas, metade delas multisseriada – modalidade em que os alunos do 1.º ao 4.º ano do ensino fundamental têm aula juntos. “Estamos construindo novas escolas para acabar com isso, inclusive uma com ensino integral”, diz Bitencourt.

 

 

A saúde também não é lá essas coisas. A relação médico/habitante, de 1,9, está abaixo da média nacional (1,95), da média do Ministério da Saúde (2,5) e da média de Curitiba (5,5). No local, há sete unidades de atenção básica à saúde. Só a unidade do centro faz 60 atendimentos por dia.

 

 


Fonte: Gazeta do Povo, 17 de setembro de 2014

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