Terapeutas de finanças cobram necessidade de se ensinar disciplina nas escolas
A educação financeira do jovem com até 24 anos piorou de 2013 para 2014, mas está próxima do nível dos mais velhos, segundo o Indicador de Educação Financeira (Indef) feito pelo Ibope Inteligência e divulgado ontem pela Serasa Experian. O motivo é que a falta de uma disciplina sobre o tema nas escolas faz com que os brasileiros aprendam a organizar o orçamento com os tropeços da vida, o que nem sempre significa que aprenderam direito, dizem terapeutas financeiros.
Somente 3% dos entrevistados tiveram nota acima de 8,0. O Indef médio ficou neste ano em 6,0, em uma escala de 0 a 10. No entanto, a nota dos jovens de 16 a 17 anos caiu de 5,9 em 2013 para 5,5 em 2014 e a do grupo de 18 a 24 anos, de 5,9 para 5,8. Ainda que o brasileiro com idade acima das duas faixas tenha avaliação entre 6,0 e 6,2, a pequena diferença mostra que a falta de educação financeira é generalizada no País.
Para a coordenadora do projeto de extensão Saúde Financeira da Família da Unifil, Maria Eduvirges Marandola, os jovens são ainda mais vulneráveis à sedução do marketing e às facilidades de crédito, que levam às compras por impulso. A professora cita que se trata de uma geração que não aprendeu a poupar e que é imediatista ao consumir. "Essa pesquisa é um grito aos educadores e autoridades, porque confirma a necessidade em se promover a educação financeira à população."
Maria Eduvirges cita que a pesquisa aponta que 41% dos jovens de 16 a 24 anos tem a tendência a consumir sem pensar e que 27% deles compram marcas que pessoas próximas aprovarão. "A maioria desconhece por completo como se organizar financeiramente, mesmo quando tem curso superior. Não entendem que os juros vão onerar a compra a prazo e que isso compromete o orçamento futuro."
Autor do livro "Terapia Financeira", Reinaldo Domingos afirma que a nota levemente melhor de pessoas acima de 25 anos não vem da educação financeira porque a maioria nunca teve contato com a disciplina. "A pessoa mais velha vai errando mais e se arriscando menos e as notas não mudam muito porque não houve educação na base", diz, ao cobrar uma disciplina sobre o tema do ensino básico ao médio.
Poupança menor
O número de pessoas que pouparam dinheiro nos 12 meses anteriores à pesquisa caiu em todas as faixas de renda, entre 2013 e 2014. Se a diferença para quem recebe até dois salários mínimos foi de 18% para 17%, no caso de quem recebe de cinco a dez salários foi de 59% para 45% e, para quem ganha mais de dez, de 76% para 57%.
Maria Eduvirges diz que o indicador mostra que a inflação pode ter corroído a renda da população. Domingos completa que também se trata de falta de educação financeira. "O salário é maior, a facilidade de crédito também e, mesmo que o poder de compra tenha caído, a pessoa poupa menos."
O vendedor Marcos Gomes nega que faça compras por impulso, mas assume que tem gastado mais do que ganha nos últimos meses. Ele conta que não observa os juros ao fazer uma compra a prazo, ainda que faça de tudo para pagar a parcela cheia do cartão de crédito. "Nunca tive problema, mas é porque vi outros dizendo que se complicaram ao pagar só o mínimo no cartão."
Fonte: Folha de Londrina, 08 de agosto de 2014
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