Fatores como o aumento na expectativa de vida dos brasileiros e mudanças na regra do fator previdenciário explicam essa tendência
"Não me canso, porque sou saudável. Deus me dá coragem. E a preguiça
não faz parte da minha vida", ensina Edwirges Miranda
não faz parte da minha vida", ensina Edwirges Miranda
"Trabalhar é uma honra", diz Edwirges Maria Miranda, de 62 anos, enquanto enche uma quentinha com salgadinhos para um cliente numa rede de supermercados de Londrina. Ela trabalha a maior parte do tempo em pé, numa jornada diária de 8 horas. E com gosto. "Não me canso, porque sou saudável. Deus me dá coragem. E a preguiça não faz parte da minha vida", ensina. Dona Edwirges integra uma parcela da população que só faz crescer no Brasil: a de idosos economicamente ativos. Fatores como o aumento na expectativa de vida dos brasileiros e mudanças na regra do fator previdenciário explicam essa tendência. O mercado de trabalho está aberto para as pessoas acima de 60 anos.
"Houve mudanças nas regras da contribuição do fator previdenciário, que acabaram fazendo com que as pessoas fiquem mais tempo no mercado de trabalho. As pessoas estão se aposentando mais tarde, há uma oferta de emprego maior dada à redução da entrada do jovem no mercado de trabalho, e com o mercado cada vez mais especializado, a experiência dos mais velhos é levada em conta", analisa o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo Pereira.
No Paraná, segundo dados do Observatório do Trabalho, a participação de idosos acima de 60 anos no mercado de trabalho aumentou 9,23% de 2003 para 2012. Há 11 anos, havia 325.869 trabalhadores na melhor idade, hoje eles são mais de 393 mil. O percentual do número de pessoas dessa faixa etária entre a população ocupada cresceu 27,8% no Estado.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, reforça essa tendência, que é nacional. A taxa de ocupação de trabalhadores com mais de 60 anos teve um ligeiro aumento de 21,9% para 22,3% entre o segundo trimestre de 2012 e o segundo trimestre de 2013. Apenas a faixa etária de 40 a 59 anos registrou alta um pouco maior nesse mesmo período (de 68,4% para 69%). As demais faixas pesquisadas (14 a 17, 18 a 24 e 25 a 39 anos) registraram uma queda no nível de ocupação.
Dedicação
Dona Edwirges é um bom exemplo do perfil procurado pelas empresas que apostam na força de trabalho da melhor idade. "Eu não falto de jeito nenhum. Para eu não trabalhar, só se eu estiver muito mal", garante. Sua supervisora confirma: ela e os outros 49 funcionários com mais de 60 anos empregados pelo supermercado têm senso de responsabilidade, experiência no que fazem e são pacientes com a clientela. "Eles não nos dão trabalho, demonstram na prática que não querem perder a oportunidade que a empresa lhes dá", afirma Rosimeire Aparecida Silva, gerente de perecíveis.
Só que até conseguir a vaga, dona Edwirges pelejou. Depois que trabalhou por 18 anos numa panificadora que encerrou as atividades, ela conta que demorou para encontrar quem lhe abrisse novas portas. O motivo? A idade. "A primeira coisa que eles olham é a sua face. Acham que por sermos mais velhos não vamos dar conta do serviço", reclama.
Em Londrina, o Sine tem 40.395 pessoas ativas em seu cadastro. Dessas, 1.999 (quase 5%) são idosos acima de 60 anos. As vagas mais procuradas são para porteiro, empacotador, copeiro e outros serviços que exigem menos esforço físico. "Algumas empresas dão preferência a esse público pelo atendimento que os idosos prestam. Além disso, eles têm mais disponibilidade e não mudam tanto de emprego em busca de maiores oportunidades, como fazem os mais jovens, por exemplo", afirma a secretária municipal de Trabalho, Emprego e Renda, Kátia Marcos Gomes.
Fonte: Folha de Londrina, 17 de fevereiro de 2014
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