Os sindicalistas em conflito com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, deverão criar um partido político para disputar as eleições legislativas do próximo ano. Cristina está rompida, desde o ano passado, com o secretário-geral da central sindical CGT, Hugo Moyano, e isolou os dirigentes não alinhados à Casa Rosada ao anunciar anteontem o valor do novo salário mínimo.
No anúncio de um reajuste de 16% neste ano e 9% no próximo, o que deve fazer com que o salário mínimo atinja 2.670 pesos (o equivalente a US$ 576, no câmbio oficial) a partir de setembro, estavam representados apenas os setores com os quais Cristina articula uma nova central, como o de metalúrgicos, o da construção civil, o dos taxistas e o dos eletricitários, entre outros. O comando paralelo a Moyano deve ser oficializado em outubro.
Os sindicatos ligados a Moyano promovem uma reunião hoje para começar a estruturar o partido, que vai se chamarMovimento pela Reconquista Peronista. A articulação está sendo comandado por Geronimo Venegas, líder dos trabalhadores rurais e dos estivadores marítimos, que formam um único sindicato, a Uatre.
Venegas rompeu com o governo três anos antes de Moyano, durante o conflito entre Cristina e empresários do meio rural, em 2008. Para atrair lideranças de fora do meio sindical, Venegas afirmou que o novo partido tentará conciliar antigos adversários, como o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna e o ex-presidente do Banco Central Aldo Pignanelli, ambos do governo de Eduardo Duhalde (2002-2003). Lavagna, que foi candidato presidencial derrotado em 2007, conseguiu fazer com que Pignanelli fosse demitido da instituição que presidia após meses de divergências.
O anunciado aumento do salário mínimo não repõe a inflação argentina calculada de modo informal por consultorias independentes, que estimam uma variação de preços da ordem de 25% nos últimos 12 meses. Em 2011, quando o ritmo da inflação era menor, o aumento não só não foi parcelado como teve caráter retroativo. Mas no ano anterior a elevação também foi feita em duas vezes e teve um percentual inferior, de 22,6%.
Cristina conseguiu frear os reajustes salariais nas negociações do setor privado com os sindicatos ligados ao governo. O aumento homologado para os trabalhadores do setor automotivo, por exemplo, ficou em 18% este ano, ante 28% obtidos no ano passado.
Os sindicatos alinhados a Moyano tiveram comportamento oposto e radicalizaram as negociações. O sindicato dos caminhoneiros, comandado diretamente pelo secretário-geral da CGT, conseguiu reajuste de 26%, dois pontos percentuais acima do índice do ano passado, depois de uma paralisação nacional que fez com que a presidente interrompesse a sua participação na cúpula Rio+20, no Brasil, em junho. O sindicato de Venegas ainda não concluiu as negociações e reivindica um aumento de 30%.
A reportagem é de César Felício e publicada pelo jornal Valor, 30-08-2012.
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